DEPOIS DO AMOR, O DESAMOR!
Lena Chagas

Convivemos e nos conformamos com o desamor da mesma forma como o fazemos em relação à morte, porque igualmente irremediável é a morte do amor.
Demoramos muito para perceber ou passamos uma vida inteira sem admitir que o amor acabou. Aceitar sua finitude é muito doloroso. Então, muitas vezes, buscamos alento em outras formas de amor como o carinho, a amizade, o companheirismo e a compreensão, e nelas ancoramos nossa vida em comum.
E podemos viver assim, amistosa e carinhosamente, por anos e anos, sem queixas nem cobranças, sem questionamentos nem crises, sem grandes emoções, mas em "perfeita harmonia". Há quem tenha convicção de que vive feliz assim, numa relação morna e confortável.
Porém, nem sempre é assim e a chegada do desamor pode até ser um alívio. Resultado de um esvaziamento gradativo, mágoas retidas, decepções veladas e arrependimentos acumulados, doloroso será encarar a frustração daquilo que poderia ter sido; presenciar o desmoronamento do que foi construído a dois; perceber o desencontro dos interesses antes compartilhados; constatar a falta de cumplicidade e o fim da sintonia; enxergar no outro uma pessoa diferente daquela que nos causava admiração; e flagrar o desencanto nos olhares que não mais se procuram, desviam-se.
A essa altura, a convivência já deixou de ser confortável. A presença do outro passa a ocupar muito espaço, o ar fica pesado ainda que o clima seja amigável. Qualquer gesto, a voz, o cheiro e o contato físico passam a incomodar. A troca de palavras se limita ao indispensável ou a ridículas trivialidades.
A separação se torna imprescindível. Mas nem sempre o é para os dois. É quando a palavra 'separação' passa a circular pela casa e se fazer sentir pelo seu toque de "espera" em todas as coisas e ações que antes fluíam naturalmente. Tudo mergulha no marasmo. Só o tempo não espera e passamos a sentir que a vida está correndo e nos escapando por entre os dedos.
Um tem pressa e o outro adia. Necessidades desencontradas, prioridades diferentes e interesses opostos fazem aumentar o desânimo para tentar reverter as coisas, sobretudo quando não se acredita no renascimento de um amor que acabou.
Mas há que se ficar atento para que o desfecho não leve o tempo que nos resta de vitalidade e alegria, pois ainda que irremediável a morte do amor, podemos viver muitos amores nesta vida e acreditar que cada amor que nos chega será para sempre!



fale com a autora

Para voltar ao índice, utilize o botão "back" do seu browser.