A CEGONHA E O JARDINEIRO
José Luís Nóbrega

- Paiê, a cegonha existe mesmo?

- Claro, Guga, papai já te falou um milhão de vezes que sim.

- Paiê, será que a cegonha pode tomar o corpo de alguém e sair andando por aí, será paiê?

- Ah, Guga, que pergunta é essa agora, meu filho?

- Ué, paiê, a cegonha pode tá andando por aí, que nem naquele filme que nós fomos assistir, lembra, paiê? Aquele que os homens andavam de preto, de óculos preto, de capa preta, e que na verdade num eram homens, eram ETs, e andavam por aí, numa boa, dentro do corpo das pessoas, lembra, paiê?

- Claro, Guga, que eu me lembro! Homens de Preto era o nome do filme, meu filho, e... É, Guga, você tem razão, a cegonha pode estar andando por aí, dentro do corpo de alguém...

- Paiê?

- Que foi agora, Gustavo?

- Paiê, quando o senhor quis me ter, foi só pedir pra cegonha, que ela me trouxe? Foi assim, paiê?

- É, é sim, Guga. É só pedir que a cegonha, depois de nove meses, traz um bebezinho pra gente. A mamãe e o papai pediram pra cegonha trazer uma criancinha, aí ela trouxe você. Mas por que essas perguntas agora, Guga?

- Paiê, sabe o que é? É que ontem a mamãe se trancou lá no quarto com o Seu Antônio jardineiro, e ela ficava gritando assim, ó, paiê: Eu quero um filho seu! Eu quero um filho seu! Bem alto, paiê, bem alto. Será que o Seu Antônio num é uma cegonha, paiê? e vai trazer um irmãozinho pra mim? A mamãe que pediu, paiê!

-...

- Mãnheee! Mãnheee! O papai desmaiô! O papai desmaiô! Corre aqui, mamãnheee! Chama o Seu Antônio Cegonha lá no jardim pra ajudar a carregar o papai, anda, mãê! Mamãe, o papai tá rodando os olhos, corre aqui. Seu Antônio Cegonha, vem aqui ajudá o papai, vem...

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