- 111ª atualização -

TEMA PROPOSTO
ANISTIA
INSPIRADO EM CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

 

ANISTIA
(excerto)

Mal foi amanhecendo no subúrbio
as paredes gritaram:anistia.

Rápidos trens chamando os operário
sem suas portas cruéis também gritavam
anistia, anistia.

Os bondes vinham cheios, tabuletas
já não diziam Muda, Méier, Barcas.
Uma palavra só nelas gravada:
anistia.

Os jornaleiros brandem um papel
de dez metros de alto por cinqüenta.
Nesse cartaz imenso em tinta rubra:
anistia

As lojas já pararam de vender
Os vidros, os balcões, se rebelando,
beijam teu nome, roçam tua imagem,
anistia

e olho para as rosas: anistia
Para os bueiros da City, para os céus,
para os montes em pé nas altas nuvens:
anistia.

Anistia nos becos, nos quartéis,
nas mesas burocráticas, nos fornos,
na luz, na solidão:
só anistia.

E bate um sino. Um remo corta a onda.
Alguém corre na praia. Estes sinais
querem dizer apenas, sem disfarce:
anistia, anistia

Esta é a voz dos mortos sob o mármore,
é a voz dos vivos no batente.
Ouço mil bocas em silêncio murmurando:
anistia.

(do livro: Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas)