LEMBRANÇAS
Jacimara Lourenço Tenório
 
 

Tanto trabalho a fazer, mas a lembrança de papai insistia, saudades daquela figura forte e cheia de luz.

Lembranças da infância, das tardes que tentava subir nas árvores e não conseguia. Era muito pequena e não acompanhava meus irmãos mais velhos que podiam observar o mundo lá de cima.

Pensava comigo mesma, apesar da pouca idade, que um dia subiria e este dia seria o mais especial de todos.

Como sempre fazia, ficava ao pé da grande árvore observando meus irmãos se divertindo, mas eu não percebia que alguém também me observava e prestava atenção em todos os meus movimentos.

De repente, sinto uma mão em minhas costas, chamando-me a atenção, pedindo para explicar porque ficava ali embaixo da árvore em vez de subi-la. Meio envergonhada, olhei naqueles olhos negros de papai e disse que não podia, não conseguia subir. Ele abriu um largo sorriso e disse: "Você consegue sim!".

Segurou em minhas mãos, levantando-me do chão e num instante estava em seus ombros. Seu Antonio falou que podia subir agora. Ele ajeitou a corda amarrada na árvore, levantou-me bem alto e com todas as minhas forças, consegui escalar finalmente aquela árvore. Logo em seguida, papai estava ao meu lado. Segurou em minhas mãos e ficamos observando o mundo lá de cima, sem dizer nenhuma palavra.

E essa é a lembrança mais marcante que tenho da minha infância, talvez a única que realmente me fez sentir especial, por saber que tinha ao meu lado alguém que eu podia contar sempre.

Papai pode não estar mais conosco, mas sinto sua presença em minha vida. Engraçado como eu penso nele todas as vezes que me encontro em aflição, que meu coração está pequenino. O simples pensar, faz que eu me sinta melhor, protegida e amparada.

Embaixo desta mesma árvore, Seu Antonio teve seu último suspiro, amparado pelos braços de minha irmã mais velha. Eu não estava presente, como disse mais acima, o trabalho consegue me abstrair das coisas mais importantes da minha vida.

Não sei se esse é o remédio por querermos nos superar, nos obrigando a viver para o trabalho, deixando de lado momentos sublimes e de tamanha importância para o nosso bem estar.

Se eu pudesse voltar no tempo, voltaria exatamente naquele momento que subimos à árvore e descobrimos o mundo juntos.

Pudesse eu ampará-lo em seu último suspiro e olhar em seus olhos profundos, agradecendo pela mão que sempre estendeu quando eu precisava.

 
 

email do autor