TUM-TI-GUDUM
Elaine Grava
 
 

Seguiu o perfume, a largura das ancas, o bailado bonito dos braços desnudos. Seguiu a saia alvoroçada pelo vento matreiro; seguiu a robustez morena das coxas nem longas, nem curtas. Seguiu rijo a belezura, tomado duma afoiteza incomum; dum disparamento no peito; duma aridez na boca; duma birutice nos olhos.

Deu num botequinho ordinário cheirando a sovacos de dias inteiros; deu com homenzarrões de barrigas grandes e um tanto peludas (e um tanto peladas); deu com fuzarca, desordenação, enleio. Num instantinho avistou a belezura e engordou os olhos nesta, que se embolara no tum-ti-gudum da casa; e as ancas que já eram um tanto alargadas, pareciam engrandecidas agora, no prá-lá-e-prá-cá, no gingado, na dancinha. Larí lará.

E seguiu assuntando, muito bem prestimoso na sua função, esta, a de assuntar. Vezemquando molhava o bico numa geladinha, para não perder o costume, por assim dizer.

No prosseguimento das horas, o tum-ti-gudum foi-se esparramando, se endoidecendo, se prolongando, bem como ele, que era um derretimento só, ali, no balcãozinho rosa desbotado. A incandescência foi lhe tomandoconta, lhe aporrinhando de forma tal que não se agüentava, não se agüentava, e tamborilava os dedos magrinhos no copo gelado, nas pernas compridas, no (não) queixo Noel. E os homenzarrões, aqueles, num esfrega-esfrega prá lá de danado com a sua, sim, a sua belezura.

Chegou na altura máxima do não poder mais; do entorpecimento; da fervura um tanto animalesca. Mirou a presa, aprontou o corpo e se arremeteu no emaranhado de panças-cheiros-homens para dar cabo de sem-vergonhice e para dar adiantamento no desejar.

Foi feita e muito bem feita a façanha, ora foi, façanha esta de arrancá-la muito bem arrancanda daquela maloca danada de copos e corpos.

Quando o dia soprou fresquinho, ele e belezura, belezura e ele, se encontravam
na condição de cio,
na condição de gritos,
na condição de líquido,
na condição de céu.

 
 

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