BEBENDO AO MORTO
Francisco Pascoal Pinto de Magalhães
 
 

de corpo presente porque não houve como fugir ao inadiável compromisso - pudesse escolher se deixaria estar de cotovelos fincados no balcão do bar sem se importar com as horas travadas no relógio de parede justamente no dia do tremor de terra.

muitos duvidavam que a terra houvesse tremido algum dia em souza mas ele fora testemunha disso. alguns até de pilhéria diziam que os tremores estavam apenas nas mãos dele e que só cessavam depois que ele entornava a primeira talagada matinal da marvada branquinha; o que em parte era verdade.

agora ali excepcionalmente abstêmio. e os outros velhos parceiros bebendo a ele. café e branquinha rodando entre os presentes.

do outro lado da rua o bar ainda aberto.

madrugada alta cessaram os benditos e os pais levaram para casa as crianças dormidas.
as velas viraram cotocos e um galo cantou.

lá fora um copo se espatifou violentamente contra as pedras do pavimento e alguém de fogo jurou nunca mais por uma gota de álcool na boca. decerto mentia.

 
 

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