DE CORPO E COPOS
Luciano Tadeu de Almeida
 
 

Pores-do sol... cartões-postais... pombos- correio que não trouxeram nenhum recado, nenhuma carta. Solidão.Fevereiro continua. Estar no mundo é tão comunitário!... Mal nos comunicamos. O corpo fala mais que a alma. Realmente nos comunicamos; somos corpo e copos.

A beleza não é o desejo. Desejar não é ser. Ver não é entender tudo. Pensar não é sempre descobrir algo... Preferências e ofertas de emprego... Solidão. Escuto as águas da chuva. Faz tempo que não chove. Com tantos poemas no mundo, meu Deus!, não temos nenhuma poesia.

De corpo e copos nos decompomos no cio das ações românticas. O que nunca alcançamos sempre nos alcança. É frio o labirinto de olharmo-nos. É uma pena não sabermos. O que sonhamos ser é. Querer ser dói... e por que queremos ser se já somos? O que fica na cúpula dos incestos mal ou bem resolvidos? Estou escrevendo a esmo.

O que fazer com o querer mesmo sem querer? Ter é não ter nada. De corpo e copos... somos inúteis... somos suficientemente inúteis... tanta cultura! Tanta ciência! Tanta arte!... Meu Deus, quer merda... Ainda não somos. O que sobrou talvez não seja o suficiente. O amor foi pouco e sobrou o ano inteiro. Não é preciso ver que sobrevivemos. Tanta vida!... é vida demais. Quem vive e quem não vive?

O dia agoniza. Alguns pontos de luz resistem no horizonte... Este amor assalariado que se perde nos becos: Coisas humanas. Preferências e ofertas de emprego. Estar no mundo é tão comunitário! A flor do pecado de todos os momentos refletida nos olhos de todos os desejos... eternidade que termina... rica pobreza que sufoca no dia a dia.

O amor foi pouco e sobrou o ano inteiro.

 
 

email do autor