TARDE DE OUTONO
Ana Carolina Alves
 

É tarde agora. O vento de outono começa a penetrar pelas janelas abertas, e circula por todo o pequeno apartamento, espalhando o odor do incenso pelas paredes e móveis. Minha cachorrinha brinca com o tapete da sala, muito gasto e puído. Observo seus imensos olhos castanhos brilharem de alegria. Sinto um amor gigantesco, um imenso carinho, surgir lentamente e se juntar à mim. O chá no fogão começa a ferver, derramando algumas gotas, que escorrem, transparentes.

Estou sentada em uma almofada, quieta, boba, imóvel. As pernas e as costas doem, mas permaneço, extática.

Do lado de fora, a tarde de outono lentamente se transforma em noite. Luzes são acesas em casas e apartamentos, brilhando na escuridão paulistana.

Este é o aqui-e-agora. Esta é a única eternidade que me interessa.

Eu sorrio; feliz.

 
 

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