PARA TODO O SEMPRE
Marco Britto
 
 

Para aqueles que não se dizem poeta:
"Só um aprendiz de ternura".

Como sempre tu reapareces! Quando menos se espera, quando a expectativa começa a tornar-se indistinta nesta estrada sem fim, quando tudo passa a ser novamente igual e insosso, eis que retornas... Tu teimas em retornar.

Inconfundível em cada interminável aparição! Inequívoca, apesar dos muitos formatos das tuas diversas feições, dos variados contornos dos teus infinitos corpos, do vários sabores das tuas múltiplas bocas... Esta é a tua marca! Este teu interminável chegar e partir. Estas tuas infindáveis idas e vindas: sem tempo, sem hora, sem lugar, sem concessão... Mas ainda assim me surpreendes! Maravilho-me tanto com teus intempestivos risos cristalinos quanto com tuas repentinas lágrimas de despedidas.

Despedidas eternas porquanto dure!

Sim, possuis marcas! Marcas sem-fim. Gravadas que estão na minha memória como paisagens outonais. Lembranças que se vão e se perdem em helicóides labirintos e onde depois - num tempo qualquer de saudade - se encontram e se renovam para fundir-se novamente. Com novas folhagens voltam os velhos risos, antigas lágrimas, remotas despedidas e encanecidos reencontros. Inexorável e eterna busca. Eternos sons que ecoam, imagens que se repetem: sol, risos, sorrisos, rio, sorrio para a lua, nua, tua, ser, ter, dar... Prazer!

O céu claro de tua boca no diáfano céu de um dia, claro! De verão.

Insaciável? Sim. Sôfrego, ávido de desejo, de delírio, de fascínio, de necessidade de ti.

Inacabável expectativa em a ter para sempre.

 
 

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