SOBRE ESSE TAL DE DIA
May Parreira e Ferreira
 

Na comemoração do Dia Internacional da Mulher, muito se falou e se fez. Se o leitor me permite, gostaria de acrescentar um olhar a mais sobre estes assuntos de Dia Especial da Mulher.

Se é certa a idéia de Heráclito, "não nos banhamos na mesma água duas vezes", deveríamos saber que muita água já passou por baixo da ponte, e que há muita diferença no tratamento dado à humanidade, à natureza, ao meio ambiente, desde 1910. Assim com existem textos datados, existem momentos histórico-evolutivos que ficam com cheiro de passado.

Nestes tempos globalizados, é constrangedor falar em condição inferiorizada da mulher ocidental. As mulheres do ocidente estão em postos de destaque em todas as áreas de trabalho e não devemos fazer considerações sobre o Oriente, julgar outros povos, outras culturas, outras medidas.

Não acho que devamos querer um mundo melhor para as mulheres e acredito que auto-estima seja uma questão individual, pertencente à espécie humana. Não precisamos resgatar nada por sermos mulheres, nem negros ou índios.

Podemos lutar por um mundo melhor sim, com melhores condições de vida, com menor índice de mortalidade por desnutrição, melhores tratamentos para os doentes mentais ou físicos e assim por diante. Não podemos pedir passagem só porque somos mulheres. Pedir para sermos tratadas como minoria é aceitar nossa minoridade. Precisamos transmitir aos nossos descendentes, costumes morais e éticos, sem que seja isso seja pensado como coisa que venha instintivamente, sem ninguém ensinar. Fernando Pessoa diz: A sensação, persistindo, vai deixando alguma cousa que pela memória se vai tornando permanente. Esta permanência da sensação é o sentimento (Páginas sobre Literatura e Estética. Publicações Europa-América, Ltda. Portugal). É a demorada instalação dos hábitos. Não creio que a mudança seja rápida, uma vez que já nos foi transmitido tudo isto desde os avós de nossos avós. Creio em uma mudança, lenta e gradativa. Na evolução das espécies, como dizem os cientistas, são necessários muitos milhares de anos para que um fator comportamental torne-se um atributo físico. Sendo assim, a cooperação, que já é inata nas abelhas e formigas, ainda poderá ser natural na espécie humana um dia, em um futuro.

Isto, se educarmos nossas crianças hoje (que não têm limites e são a causa de desespero de tantos casais).

A educação feita nas escolas pelas mulheres é recente, historicamente. Na Grécia antiga a educação era feita por homens, Alexandre o Grande teve a boa (ou não) fortuna de ser educado por Aristóteles.

Vamos fazer uma brincadeira mental e imaginarmos Alexandre sendo educado por uma mulher. Proponho este exercício para outras autoras, seria muito divertido compararmos as narrativas. Minha avó dizia que se as mulheres fossem para a guerra, não sobraria o mato que elas pisaram. Melanie Klein em sua Teoria do Desenvolvimento Psíquico explica o porquê. (A quem possa interessar: Inveja e Gratidão, Ed. Imago, RJ.)

Se somos mesmo o principal agente transmissor de comunicação para os filhos, não há espaço para pensarmos que somos menos em algo. Acho um pouco preconceituoso afirmar que mulher quando ganha empata (parece revanchismo). Estudando o passado vamos encontrar escravidão como coisa normal e até defendida por grandes filósofos (o próprio Aristóteles). As atitudes morais mudam com o tempo.

De qualquer maneira, acho importante no dia-a-dia das mulheres e homens a reflexão: Como podemos nos educar melhor, no futuro que bate à porta?

Não sei bem o que é ser mulher, ou homem, sei a mulher que sou. E vocês, sabem quem são?

Abraço meu.

 
 

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