VERMELHO
José Luís Nóbrega
 
 

O batom vermelho nos lábios, vestido vermelho, mãos trêmulas com unhas pintadas de vermelho para o primeiro encontro.

Quando ela chegou, ele a aguardava em uma mesa forrada por uma toalha vermelha. O cardápio da cantina tinha a capa vermelha. O molho vermelho do macarrão foi limpo no canto da boca por um guardanapo vermelho. O batom vermelho marcou de vermelho a taça de vinho meio avermelhado. A cara dele, vermelha pela timidez do primeiro encontro. O primeiro beijo, marcando o rosto dele de vermelho.

No dia seguinte um presente: uma caixa de bombons com um laço de fita vermelha. Na noite do noivado um lindo buquê de rosas vermelhas, entregue enquanto ela abria a caixinha de veludo vermelho que guardava alianças.

No convite de casamento o nome deles escrito em vermelho, cor do amor. Na cerimônia, ele a aguardava ansioso, vestido com terno preto e lenço de seda vermelho no bolso. Ela caminha a passos lentos sobre um lindo tapete felpudo vermelho.

A primeira noite de amor sobre um lençol vermelho. A camisola vermelha é jogada sobre o lenço vermelho de seda. Juras de amor sob a luz de um abajur vermelho.

A primeira discussão, sentados em frente à TV, em um sofá vermelho. Goles de uísque da garrafa de rótulo vermelho. O primeiro arranhão deixando o braço dele vermelho, causado pela unha dela, esmaltada de vermelho.

A separação assinada com caneta vermelha. A cara dele vermelha de raiva, a dela, vermelha de vergonha.

No parque ele caminha com sua camiseta vermelha, ela com suas sandálias vermelhas. Ela come algodão-doce vermelho, ele observa a criança que brinca com um balão vermelho. Eles se encontram próximos à barraquinha vermelha da maçã do amor. Ela com as maçãs do rosto vermelhas pelo calor, ele com as bochechas vermelhas de cólera.

Caminham discutindo, ela olhando para as sandálias vermelhas, ele olhando para o algodão-doce vermelho que ela come. Ele a pega pelo braço, deixando-o vermelho. Com a outra mão ela desfere-lhe um tapa, marcando de vermelho o rosto dele. Ele a empurra, e ela bate a cabeça numa grade de pontas vermelhas que circunda um lindo jardim de flores vermelhas.

Caída no chão, ela vê um balão vermelho perdido num céu azul. Ele, de olhos vermelhos pelo choro, olha a mancha de sangue vermelha que se forma por entre a grama verde. Ele segura a mão dela, suja de algodão-doce vermelho. Ela fecha os olhos, e vê o clarão vermelho do Sol se apagando... lentamente...

 
 

email do autor