PELA MADRUGADA!
Alice de Sousa Silva
 
 

Há exatamente um mes atrás eu estava escrevendo outro texto pra enviar pro site dos Anjos, pois o texto anterior era muito simples, e não tinha certeza se tinha sido enviado. Estava aguardando uma resposta do Beto Muniz pra ter certeza se haviam recebido.

Fui dormir lá pela meia noite. As duas da madrugada fui ao banheiro, voltei deitei e me leventei de novo de um salto, a bolsa havia rompido, pois é, eu estava grávida, isso foi dia 18 de Abril, corri de novo pro banheiro, tinha chegado a hora da onça beber água. Primeira providência , me acalmar, respirar fundo, fiz isso, depois fui ligar pro marido que estava naquela semana trabalhando a noite. Poxa! eu havia rezado tanto pra que ela quisesse nascer de dia, mas a peitiquinha, queria vir na calada da noite.

Ligo pro celular do marido e pra meu espanto e desespero o bicho tocou na sala ao lado, o chão me fugiu dos pés, fui averiguar pra ter certeza, pois não é que o telefone estava bem ali, em cima de uma cômoda, carregando a bateria? Não acreditei, justo naquele dia o sujeito tinha esquecido de levar? Aquilo não estava acontecendo. De novo respirei fundo e de novo tentei manter a calma. Ligo pro celular do chefe dele. O Homem atendeu com a voz de quem acaba de acordar, pedi pra falar com o marido e ele me diz que infelizmente está em casa e estava dormindo. De novo me desespero, peço um monte de desculpas e pergunto como entrar em contato com a firma do meu marido. Ele me dá o número do substituto dele, agradeço e desligo, gelada, tremendo, me acalmo pra tentar continuar. Ligo pro outro rapaz que atende em seguida e eu disparo: Eu vou ter um bebe daqui a pouco e preciso urgente falar com Eraldo da Silva, eu vou matar ele porque deixou o telefone aqui em casa, justo na epoca que vou ter um nenem. Eu queria chorar mas estava muito nervosa. Emfim ele disse que iria encontrá-lo e avisaria, mas caso não conseguisse ele mesmo viria em casa e me levaria pro hospital. Desliguei o telefone, liguei o aquecedor pois estava congelando de frio e de nervoso, troquei de roupa,acordei minhas outras duas filhas que estavam dormindo. Perguntei se queriam ir comigo ou se ficariam dormindo, uma queria ir, a outra ficar, eu mesma decidi, ficam as duas então, o papai já ta vindo e ficará com voces ok? Ok,responderam e voltaram a dormir. Nessa altura já me controlava bem, resolvi chamar um taxi,quando desliguei, o telefone toca, era meu marido. Estava vindo mas levaria uns 40 minutos pra chegar, avisei que ja tinha chamado um taxi, que ele viesse com calma e fosse me encontrar na maternidade. Peguei as malas que ja estavam prontas,beijei as crianças,e sai para a madrugada fria. No escuro da calçada, com duas bolsas nas mãos, uma barriga enorme esperando o taxi eu me senti uma figura cômica. Tremendo de frio eu falei: Eu to ridícula. Sorri, mas quem me visse não veria um sorriso. Estava feliz, mas assustada, finalmente ia me livrar daquela incômoda barrigona e abraçar e beijar muuuuuuuuuuuuuito, o meu bebezinho. Pra fim de história, ela veio nascer dia 18 a noite, as 22:08. Eu não sentia dor nenhuma, já queria vir embora pra casa, só não vim porque a bolsa havia rompido, e a emfermeira me mandou esperar, que há qualquer hora ela viria, e lá pelas 6 da tarde, vieram as contrações e finalmente Fernandinha nasceu.

Ufa! hoje só de lembrar do sufoco me sinto cansada e não consigo esquecer daquela figura patética no escuro frio da madrugada, no sopé de uma montanha, numa cidade no interior do Japão. Eu mesma. Brasileira, cearense, exilada econômica na terra do sol nascente.

 
 

email do autor