NO ESCURO
Cristina Del Nero
 
 

O elevador está lotado de pessoas atrasadas para o trabalho. Todos olham para o painel que indica os andares, evitando assim trocar olhares com pessoas desconhecidas. Até que o elevador quebra. No escuro ouve-se somente um gemido abafado, um gritinho contido.

Alguém anuncia que o elevador quebrou, como se ninguém mais tivesse notado. Outro aperta os botões aleatoriamente, como se fizesse alguma diferença. O calor já começa a ser notado. Não demora muito pra que alguém pise no pé de outro alguém. Ouve-se um pedido de desculpas, de uma voz feminina bonita e sensual. Atrás dela uma voz masculina, grave e sedutora, responde que não foi nada.

Alguns segundos depois, ninguém mais consegue conter a ansiedade. Ficar no escuro, sem se mexer, não é uma tarefa fácil. Agora é a vez da mesma voz masculina pedir desculpas. A voz feminina, que todos já conhecem, sussurra que foi um prazer. Todos tentam enxergar de quem são as vozes. Ouvimos um gemido. Outro gemido, agora mais grave. E bem nessa hora a luz volta e o elevador começa a andar. Quase todos respiram aliviados. Dois respiram com pesar. As pessoas vão descendo em seus andares. Apenas dois deles permanecem no elevador. Antes da porta fechar, a luz é apagada novamente. Agora de propósito. Agora sem culpas, nem desculpas.

 
 

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