CONSUELO
Leo Agapejev de Andrade
 
 

Depois da pieguice, a nostalgia megalomaníaca me capturou. Exasperada, procurei por consolo nas mais variadas verdades.

Pensei que depois dessa empreitada fosse ficar cega: logo depois. Só os olhos ficaram para ver que realmente fiquei sem nada (e só então pude acreditar): minhas lembranças e o consolo que deixei de ter por estar viva e querer algo sem rumo, que paradoxalmente pede desesperadamente para se sentir em casa por poucos minutos que sejam. Um consolo de qualquer natureza, que se revelou ilusório quando olhei para o sol e percebi que no fundo nunca houve nada de novo no mundo...

Em vista disso, procurei, então, uma sombra e esperei que o sol desse lugar à noite, até que não houvesse nada mais para se esperar, se olhar e se apreender. Mas depois de algum tempo, que durou muito pouco, voltou o sol. Que me agarrou a cabeça e a bateu seguidas vezes contra a parede, e que depois parou por um breve instante (entendo que a intenção era aliviar a dor para evitar que eu perdesse a consciência: assim, a dor se faria sentir por mais tempo) para logo depois reiniciar a agressão.

A dor.

Não vejo mais o que me causa a dor: o sol me cegou. A agressão tornou-se permanente. Assim, vindo de qualquer lugar, sem formas, tendo como sinais de sua existência alguns ruídos que apenas me dão uma fraca idéia da natureza daquilo que se aproxima, tudo se faz mais intensamente doloroso.

Resta-me, então, diluir o calor do mundo em gotas de suor e tentar aliviar o que se faz presente e cuja natureza me foi proibido conhecer: os contornos do mundo. Mas desta vez, não me resta o consolo da pieguice nem da nostalgia megalomaníaca, que num certo tempo, sob o sol eterno, me faziam procurar por coisas que (agora percebo) não existiam. Agora, me parece, vejo a verdade.

Ou não me chamo Consuelo!

 
 

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