TIOZINHO
Rutinaldo Miranda B. Junior
 

Vida de quarentão não é moleza. Tem que conviver com apelidos pra lá de maliciosos. O sujeito com seus cabelos grisalhos sabe do que estou falando. E mesmo se os pintou, tentando desesperadamente esconder os fios, não tem jeito. De todos os lados sente as alfinetadas. A pior delas,com certeza, é ser chamado de "tiozinho". Ai, "tiozinho" é de morrer! Uma verdadeira cacetada na auto-estima. Pois é, esse abominável adjetivo é impiedoso. Surge no pior momento. Logo, na crise dos quarenta. Lançando o homem maduro, por assim dizer, no mais completo desespero.

Didaticamente falando, a crise dos quarenta é aquela fase em que o respeitável senhor quer voltar a ser um garotão. E para cumprir essa tarefa inglória (e, cá pra nós, impossível) ele faz de tudo. A primeira e clássica providência é declarar guerra à embaraçosa barriga. A sua protuberante companheira de longos anos precisa ser abandonada. Em prol da tão sonhada estética. É que jovem que se preza tem o corpo sarado. Assim, o quarentão entra numa academia de ginástica. Compra roupas de lycra colantes. Para, num futuro próximo, mostrar seu corpinho delineado. Também é comum o quarentão perder boa parte dos seus preconceitos. Ir à farmácia e botar aquele brinquinho da hora. Justo aquele que o seu sobrinho diz fazer o maior sucesso com as garotas. O quarentão coloca o brinco sem o menor pudor. Até porque, nessa idade, é comum ter pai com catarata. E se evita o constrangimento de escutar o velho berrar (pra toda a vizinhança ouvir) que o filho está ficando doido ou afeminado.

É, não é moleza não! Ser quarentão tem os seus altos e baixos. Sendo que, na maioria das vezes, os baixos superam os altos. Principalmente, quando é necessário se enturmar com a garotada. Uma boa dica é não abrir muito a boca. Ou, se percebe que "supimpa" foi riscado do mapa. Agora, dizem que é "show de bola". "Broto" só se for de feijão. O certo é chamar a belezura de "mina". E por aí vai. Se mesmo assim o quarentão não perceber que está em outro mundo. Tão perdido quanto cego em tiroteio. Pode arriscar vôos mais altos. Paquerar sua própria mina. Mas, é preciso ficar alerta. A investida pode ser traumática. Muitas vezes no embalo da discoteca. Encorajado por uns goles a mais. O quarentão se solta. Esquece que todo mundo não dança mais agarradinho. Que a moda é se divertir pulando igual macaco. E, parte pra caçada. Aí, ele pode ter a sua pior decepção. É quando se aproxima todo entusiasmado de uma garota. Rodopia, agita os braços e puxa a conversa. Então, vem a bomba. "Que foi tio?". Ao escutar a frase demolidora, o quarentão desaba. Foi chamado de velho. Logo pela garota com quem queria namorar. E ela foi curta e grossa. Disse a verdade sem papas na língua. Ele, o quarentão, era um velho. Estava ali só importunando todo mundo. Com a sua idéia de querer ser o que não é. Devia mesmo era ir pra casa. Vestir seu pijama, tratar de dormir. Porém, se o quarentão não der a mínima pro comentário e partir pra outra, não tem jeito. Quem procura acha. E ele vai encontrar a garota que tanto procura. Provando pra todos que a idade que a gente tem é aquela que está na nossa cabeça.

 
 

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