FOLHAS SOLTAS
Rosi Luna
 
 

Folhas que não escrevi, caídas pelo chão de um outono barítono. Bolhas que não soprei, voando pelo céu de arranha-céu. Amores que não vivi, ouvidos de rumores incolores. A cor é difusa, meu estado emocional, confusa. Gosto da forma geométrica, obtusa. Se quero afundar em pensamentos, medusa. Se quero pegar uma uma peça de roupa, blusa.

Me usa, abusa, tira minha blusa. Me odeia, me incendeia, tira essa meia, mas sinta alguma coisa. Tentei dizer de todas as maneiras, abri tantas clareiras, queimei em todas caldeiras. Não, ele não me quer,nem para brincar de mal-me-quer. Assim jogada num canto qualquer,procuro um jardim de bem-me-quer. Eu queria só ser tua mulher, uma noite sequer. E se você pudesse me sorver, como sopa na colher.

Folhas que escrevi, em cima da mesa de um inverno terno. Rolhas que travei, fechando os gestos maestros. Clamores que dancei, valsa Vivaldi.O abajur é meia-luz, meu corpo o seduz. Meu estado longitudinal,bússola na sola dos pés. Gosto da sobrancelha, e do que me der na telha. Se quero parar com fingimento, coringa. Se quero pegar uma peça do jogo, como a dama.

Meu, teu - amor fora do tempo invento. Galileu, astrolábio, beija meu lábio.Me ama, me inflama, aperta essa veia, mas não me venha com indiferença.Minha crença, é uma sentença de carrasco, perder a cabeça no seu rastro. É um gostar tão arfante, da artéria pulsante, me chama o transplante. Eu queria só ser teu homem, um dia qualquer. E se você pudesse me envolver, como um tórax no púlover.

Folhas que sopram nas muralhas, voando na esfera primavera. Folhas que soltei,abrindo os olhos das pedras, dos inanimados mofados. Folhas tão tolas, de todos os verbos aquáticos estáticos. Folhas da mata Atlântica, minha visão tão romântica. Folhas dançantes, no farfalhar da saia de seda, insenso consenso. Folhas de luz,caída no chão a blusa toda prosa. Folhas amorosas, abrem os botões de Rosa. Ela é Maria Rosa, amou no jardim e escreveu um folhetim.

- Eu planto letras e nascem folhas soltas.

 
 

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