ERNESTO
Kátia Rodrigues
 
 

Chegaram em casa depois de uma noite de muitos chopes e risadas. Desavisada, juntou-se aos filhos para continuar o bate papo filosófico iniciado na Lapa. Escutou-o chamá-la no quarto e falou um 'já vou' descansado. Ele impaciente foi à sala e pediu que fosse até o quarto um instante. E ela lá se foi.

Ao entrar, apressado, trancou a porta, empurrando-a contra e, num misto de riso e surpresa não teve tempo de nada dizer. Calou-a com um beijo, enquanto as mãos lhe tiravam a roupa. Despiram-se com toda fome do mundo, que nunca lhes saciava, enquanto lá fora ficaram as vozes distantes.

Na pressa ficaram no chão, as roupas em volta, jogadas. Sentiu-lhe a língua percorrer o corpo e nada mais existia. Amava-o. Como nunca pensou que o amor pudesse ser. Antes dele era o nada. Descobria-se nele todos os dias. Sentiu-se completa quando encaixados gozaram em silêncio, para que ninguém os ouvisse do outro lado.

Não sabia quanto tempo passara enquanto ficaram ali, imóveis. Nem da distância de agora, dessa espera... Não imaginou que num dia futuro essa lembrança viesse tão clara e lhe dissesse o que é intimidade.

 
 

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