AS PEQUENAS COISAS
Vic Low
 

- Nhe...

- Que foi?

- Uma espinha.

- Ah, normal.

- Mas é grande.

- Normal também.

- Mas é na minha, errr, nádega.

- Nádega?

- Tá bom, é na minha bunda. Mas não gosto de falar bunda.

- Ué, por que não. Se você tem uma espinha na bunda, tem uma espinha na bunda.

- Mas é que...

- Deixa de bobagem, vai.

- Tá bem.

- Nhe também.

- Espinha?

- Não. Gases.

- Que nojo!

- Nojo por quê? Você também tem gases.

- Eu não!

- Ah, não? Só porque é mulher, é?

- É.

- Mas tem. E nem vem dizer que não. Tem gases, sua, deixa calcinha pendurada na torneira do box e essas coisas todas. Pra que fazer de conta que não?

- Mas o que eu odeio mesmo é quando eu fico gripada. Aquelas gotinhas voando nos espirros, a coriza, o catarro na garganta.

- Nem me fala, gripe é uma droga. Pior que pus.

- Pus não me incomoda. Tem coisas bem piores.

- Tem? Que coisas?

- Ah, você mesmo tem podres bem piores.

- Eu?!

- Uhum, você. Você... deixa eu ver... você palita os dentes. E isso é uma falha social seríssima. Problema de caráter até.

- Tá bom, você venceu, palitar os dentes é mais grave que ter uma espinha na bunda, do que catarro e até do que bolhas de pus.

- É, sim, tá? Você só tá falando isso porque a espinha tá na minha bunda. Se fosse na sua, diria que não tem nada de mais.

- Talvez.

- Sabe, eu acho legal que a gente fale dessas coisas sem ficar de frescura.

- É, eu também. Essa intimidade toda é boa, ainda bem que a gente pode ser assim.

- É. Mas tá tarde, eu tenho que trabalhar amanhã.

- Entendi. Precisa ir, né?

- Preciso. Mas amanhã...

- Amanhã a gente se fala.

- É. Não vejo a hora de a gente se encontrar, sabia?

- Nem eu. Mas vai ser logo. Beijo.

- Beijo nessa boquinha gostosa. Estou louco pra te conhecer. Tenho que desconectar.

* Moreno-DF-29 saiu da conversa *

* gatinha_bahiana saiu da conversa *

 
 

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