VOCÊ SABE QUEM É VOCÊ
Luciana Pareja Norbiato
 
 

Eu gostaria de não fazer isso, de não dedicar texto algum a você, porque me dói a sua vaidade de moleque, mesmo sabendo que essa é a sua parte menos importante, e você é querido, legal, você foi honesto comigo. Amo-o.

Eu queria não sentir sua falta. Mas sinto. A conta-gotas. A cada segundo em que o tempo se esfarela.

Dói. É abissal.

Umas horas eu sinto seu cheiro tão presente que olho pros lados buscando-o, tendo certeza da sua presença. E minha carência irrompe virulenta e sou golpeada no estômago um sem-número de vezes e a dor de não ter você se mostra inteira e aterrorizante, sou pequena, sou criança, tenho medo, tanto medo...

Ninguém me quer (?).

Eu quero você.

VOCÊ não me quer. Isso é o que importa agora.

Eu sei que no futuro será diferente. Eu sei que vou esquecê-lo como homem, porque sei esquecer, porque já fiz isso antes, porque a vida é assim: a gente se apaixona sem ter defesas e se rasga por dentro com o amor consumado, e então descobre que não é recíproco. Descobre que ter o amor só de pouquinho dói mais longamente do que não o ter.

Mas vou guardar eternamente registrada em minha memória tátil cada toque da nossa última noite de amor incompleto, mas tão forte e sabidamente derradeira. Uma despedida. Tão bonito, tão bonito, tão bonito... e muito recente, foi ontem. Imagine como estou estraçalhada, esfarrapada. Ainda é tão cedo pra qualquer coisa. Eu quero você meu amigo, mas ainda é tão cedo pra poder vê-lo e senti-lo dessa forma.

Seus olhos me olharam no fundo. Você me sabe, isso me assusta e me inebria. Eu queria não o querer. Quero-o com todo o meu ser. Você está em cada filigrana da minha pele, seus olhos vão me arder o resto da vida.

 
 

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