AZUL MOLHADO
Paulo Henrique Pampolin
 
 

Sempre me fascinaram. Através deles, sempre vi o que se passava por dentro de você. De tudo o que via, chamava-me atenção o coração. Proporcional ao tamanho do corpo, mas de dimensões absurdamente grandes. Ali vi toda sua bondade, sua preocupação com o próximo, sua serenidade, seu bom gosto, sua elegância, seu jeito educado de ser, seu bom humor constante.

Foi também no azul perfeito de seus olhos que vi sempre a alegria de viver, o prazer em se doar, uma lição da qual jamais esquecerei.

Tem sido assim desde sempre, muitos olhos já passaram pelos meus. Alguns pararam por instantes, outros pararam por mais tempo. Os seus vieram e ficaram o tempo suficiente para se tornarem inesquecíveis.

Seu brilho azul encanta a todos que estiverem ao seu redor, não só pela beleza que carrega estampado, mas pela energia contagiante que só os especiais tem.

Nascida para dar lições de amor, de carinho, de inteligência, de companheirismo, de lealdade, de fidelidade, de alegria de viver, ainda me perco em tantas qualidades. Contraria aqueles que dizem que bela e inteligente não podem estar em uma mulher só. Une as duas qualidades de forma surpreendentemente espantosa.

Os normais buscam conhecimento em livros, jornais ou qualquer outra leitura. Você nunca precisou disso. Abriu mão da leitura, sem jamais mostrar alienação. Estranhamente você sabe tudo.

Seus mistérios vão além. Sua serenidade diante das peças que o destino nos confronta chega a assombrar.
De onde vem essa força que transforma e comove? De onde vem essa sensibilidade que só os Lírios tem?

No profundo de seus belos olhos azuis, da mesma forma que deixa transparecer a boa alma que te habita, se camufla a nunca antes vista energia que carrega, fazendo nascer flores onde não há terra fértil. Basta que você entre em uma fotografia preto e branco para que ela misteriosamente ganhe cores. Não há um único jardim que ao vê-la não desabroche as mais belas Gérberas. Você leva esperança onde tudo se tinha acabado. Você contraria quem diz que roupa preta carrega tristeza. O preto jamais conseguiu abafar o arco-íris que você trás ao seu redor.

Nos idos, quando criança, mamãe sempre foi meu remédio para todas as dores. Um dia meu caminho passou a ser outro e fisicamente não mais ficamos próximos.

O tempo passou, mas a proteção divina incontestável um dia me fez ficar frente a frente com todo o azul de seus olhos. Vi que não mais haveria dor, não mais haveria tristeza, não mais haveria angústia, Deus acabara de colocar uma dádiva em minha vida.

De súbito você logo mostrou-se uma mulher fantástica, inacreditavelmente forte como uma rocha, doce como a vida, com a delicadeza da mais bela e rara Orquídea.

Como todo aprendiz, cometi erros, nunca propositalmente no intuito de ferí-la. Erros que todos os corações inquietos em busca da sabedoria cometem. Pequei pela inquietude de querer lutar por um futuro para ambos. Não, nós aprendizes não sabíamos que esse futuro se conquista juntos. É mais uma das amargas lições que aprendi.

Talvez deva me consolar na honestidade que fiz questão de manter ao longo desse tempo. Acho que isso aconteceu pela vez primeira. Você sempre foi merecedora de respeito.

Ainda que durasse apenas um dia, um momento talvez, ainda assim teria valido a pena. Estar próximo de você foi a mais fantástica de todas as experiências.

De todas as dificuldades que passei, a mais angustiante foi ver o maior de todos os amores, por momentos, deixar o azul cintilante, para dar lugar ao azul molhado.

 
 

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