A transposição de minha responsabilidade fica comigo... Desejei tantas ocasiões! O animal extinto há anos ainda permanece em mim. Devoro todos os momentos que me deixaram sem palavras e comunico-me sem precisão.

E este segredo cheio de espiritualidade... como desvendá-lo? Como uma Salomé cruel e ambiciosa possuída de feminilidade fica a morte cheia de vida no ar, com sabor de dança, sem remédio... E esta cabeça sem corpo. E este sangue que corre e inunda-nos. Somos inocentes. Nossa inocência é a culpa que temos.

Oh!, este Lutero que há em minha alma católica! Este Kardec que fica em meus desejos! Oh, este Siddharta que me guia no escuro que tenho de não enxergar a paz! Ah!, este tudo e este nada que me compõem e me faz ser humano!

O amor é pouco porque o limite é a existência. Existir é mais do que amar.

Ah esta república de nossos desejos! Este Lamarca que se revolta em nós: pureza cheia de pecado que tudo cria.

Meu Deus, o que eu devo fazer com este pecado puro, limpo e sensível que a minha carne suja?

Penso nas coisas como se as coisas não fossem deste mundo. As coisas são quietas. O amor que eu sinto é quieto como as coisas, é o que há de melhor em mim.

Deixo de pensar. Pensar não é ser mais do que as coisas são. Pensar dói. Meu olhar transborda fantasias: tudo é flor, tudo é alegria... Neste mundo de antipoesia, tenho todas as poesias do mundo. Me sinto egoísta. E divido tudo que tenho. E os outros me negam. Os outros me negam mas eu não sou triste. Quem nega alguém é que tem a tristeza.

Os alienados... quem são os alienados? Os lúcidos têm me mostrado tantas loucuras!

Ficar sem existir é fluir, não estar estando e acabar sem acabar, é ser o que não somos.

A transposição de minha responsabilidade deixa comigo todos os acontecimentos.

Os que mostram amar tanto talvez não tenham tanto amor para dar assim. Quando é real, tudo é quieto. Tudo é tranqüilo. Os pesadelos é que são terríveis! Mas não quero nem pensar em pesadelos; a vida já tem pesadelos demais.