BOMBA DO PODER ABSOLUTO
Vera Vilela
 

Quando vejo notícias do aniversário da explosão da bomba atômica em Hiroshima penso em o que vem a ser afinal democracia, termo tão usado pelos americanos. Eles usam essa democracia a favor de quem? É aquela velha piada de que todos são iguais, mas eles são mais iguais que os outros?

As crianças e jovens norte-americanos que são poupados de informações, até as básicas, sobre o mundo que os cercam. Será que acreditariam na democracia e na liberdade tão sempre jogada na cara dos outros se realmente soubessem a história dos povos e a submissão a qual seu país os obriga a ter? Será que eles sabem a quantidade de pessoas que foram dizimadas, ou melhor, pulverizadas, naquele fatídico 06 de agosto? Será que contaram a eles que a maioria dos homens japoneses estava na guerra e a bomba explodiu sobre milhares de mulheres, velhos e crianças? Escolas, hospitais, asilos, parques, casas, tudo pulverizado. Será esta história contada todos os anos aos jovenzinhos americanos?

Os americanos se reverenciam perante tantas almas enfileiradas em um único dia para entrar no céu? Fala-se tanto de ditadores, de Fidéis e afins, mas quem defende os japoneses que tiverem essa imensa ferida aberta, que jamais cicatrizará e, por duas vezes seguidas? Que ditador ou comunista deu a ordem fatal que condenou milhares de japoneses a morte súbita?

Nesta minha crônica quero apenas dizer que sinto muito que o homem tenha chegado a uma maldade tamanha, um terror absoluto, uma necessidade absurda de demonstração de poder, maior que qualquer campo de concentração, pois, negou às vítimas sequer o direito de fugir, de pedir ajuda ou defender-se.

O poder veio do céu. Foi lá no alto, bem longe que, covardemente a bomba que representou a maldade maior de um ser humano, explodiu, nem sequer chegou ao chão para pegar sua vítima. Lá em cima, há mais quinhentos metros, às 8:15 horas, ela explodiu. Solta que foi por um piloto cumpridor da ordem democrática e absoluta de seu superior. E ainda filmaram tudo para mostrar ao mundo como tem poder a democracia e a liberdade dos Estados Unidos da América.

Os que estavam abaixo do cogumelo de horror viam apenas a onda vindo em sua direção; seus olhos cegavam e eles apenas sentiam uma energia maléfica no ar e a vibração vindo em forma de um calor absurdo jamais sentido que penetrava em segundos em suas peles, mal havia tempo de gritar. Ali mesmo onde estivessem eram pulverizados. O velho em sua cadeira de balanço; a criança no escorregador do parque; a mulher na sua lida com a casa; a professora olhando aterrorizada para seus alunos; a mãe que apenas abraçou seu bebê e o apertou em seus seios como se fosse uma proteção de aço; o pai que colocou a mão na cabeça e fechou seus olhos; todos, sem exceção, foram pulverizados, não ouve possibilidade de fuga.

Destrui-se uma cidade e, com ela milhares de vidas. Quando vejo noticiário de torturas e humilhações que os americanos praticam contra seus prisioneiros de guerra não me assusto, afinal, eles são os mais iguais dos iguais. Eles tudo podem, eles tudo fazem. Só se esquecem que o ser humano pode ser muito maldoso também na pele de estrangeiros, como aqueles que não se acovardaram em entregar sua vida para mostrar ao mundo que os Estados Unidos da América não são a fortaleza que aparentam ser. Uma pena que isso não tenha mudado em nada a cabeça daquele povo que continua escondendo seu rabo entre as pernas para olhar o dos outros.

Um viva a nação japonesa que após tanto sofrimento, tenha se recuperado e seja hoje a grande potência que é: Viva!

Apenas para relembrar:

Pensem nas crianças mudas, telepáticas
Pensem nas meninas cegas, inexatas
Pensem nas mulheres, rotas alteradas
Pensem nas feridas como rosas cálidas

Mas, oh, não se esqueçam da rosa, da rosa
Da rosa de Hiroshima, a rosa hereditária
A rosa radioativa, estúpida, inválida
A rosa com cirrose, a anti-rosa atômica
Sem cor, sem perfume, sem rosa, sem nada
Pensem nas crianças mudas, telepáticas...

(Rosa de Hiroshima - Gerson Conrad / Vinícius de Moraes)

 
 

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