ALIANÇAS
Vic Low
 

Pareceram uma eternidade aqueles segundos que o padre esperou, olhando por toda a nave da igreja com receio de que alguma mão que se levantasse ou alguém abrisse a boca - ironicamente, as duas coisas que ela mais teve vontade de fazer quando ouviu o tentado "que fale agora ou cale-se para sempre".

- Pelo poder concedido a mim...

O padre continuava a cerimônia, sem saber que numa das últimas fileiras de convidados estava uma mulher de cabelos loiros escuros e seus vinte e poucos anos, lamentando profundamente o bom senso que a impedira de protestar quando tivera a oportunidade. Ela já não se preocupava mais, dava o caso por encerrado, apenas tentava entender por que o ex-noivo a chamara para seu casamento e, talvez até mais, porque ela masoquistamente decidira ir.

A verdade é que ela não tinha tomado decisão nenhuma até poucas horas antes da indicada no convite, mas alguns instantes anestesiados fizeram-na crer que entraria lá sem mágoas pelo abandono meses antes nem nenhum resquício de saudade daqueles seis anos terminados abruptamente por causa da mulher que agora trocava juras e alianças com seu único grande e perdido amor. Vestiu seu vestido mais preto, seus óculos mais escuros e seu decote mais provocante: seria um adeus com estilo. Só não contava com o feito que teria sobre ela a visão deprimente de outra mulher no lugar que deveria ser seu.

Os noivos já começavam a caminhar em direção à porta, logo passariam por ela. Próxima à parede, encoberta por meia dúzia de senhores e senhoras razoavelmente fora de forma, esperava não ser notada, mas seria impossível não ver sua bela e atraente figura, sobretudo em trajes tão destoantes do resto dos presentes. "Ele vai passar correndo, com olhos apenas para ela", pensava, tentando se convencer de que não seria notada. "Exatamente como era comigo até ela aparecer."

De fato, ele passou sem sequer olhar para os lados; a agora esposa, porém, percebeu sua presença - porque as mulheres percebem tudo, especialmente aquilo que lhes serve como desculpa para despejar sua ira sobre o homem mais querido. Encararam-se durante o tempo de um piscar de olhos, tempo o bastante para que a nova sra. Impostora começasse a formar um pequeno porém óbvio sorriso de satisfação. E tempo o bastante para que a outra, já sem conseguir conter as lágrimas, entendesse que há feridas que simplesmente não fecham.

 
 

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