AQUELE IMENSO (A) MAR ©
Cármen Rocha
 
 

...Lendas e Deuses se namoram...

Eis que Netuno, desperto de sua mesmice, em absoluta loucura, cansado dos estranhos navios e atrevidos, e agressivas pescas que irritam seu profundo sono, enfurece-se e inquieto empunha seu tridente. Imenso urro é ouvido em todos os oceanos. Quem ousa desafiá-lo? Abre as comportas de sua ira, sua saliva em pequenas ondas, em marés crescentes, em ódio transformada, toma vulto e peso e avança em grandes ondas, em enormes vagalhões em busca dos homens, que inventaram tropeços para invadir seus mares e desafiar seu sono eterno, destruindo baleias e plânctons e o equilíbrio das profundezas. E sua desmedida raiva, espumando vagalhões enlouquecidos, alcançando alturas desumanas, foi se despejar em terras inocentes, com terrível estrondo, levando prédios, casas, carros e árvores, e homens, suas mulheres, seus filhos, e seus cães, levando bens, seus documentos, e suas esperanças... E pedras rolaram no imenso mar em que se transformou a terra.

Mas eis que acorda de seu sono tranqüilo a guardiã dos rios. E a doce Sereia sai do Amazonas, emergindo das profundezas. E para acalmá-lo, levada por ventos nativos, cavalga o inefável boto, e como uma visão de Zeus aproxima-se em missão de paz e ternura. Seus cabelos de algas verdes... e conchas... e caramujos mil, desfilam por dez anos perante a ira de Netuno que deslumbrado, suspira e se acalma e se contém, e suas ondas terríveis em marolas transformadas vão aos poucos descansar nas costas inocentes do atlântico brasileiro, sem nenhum dano, sim, pelas amenidades dos deuses. E sua ira se desfaz em doces suspiros de amor.

 
 

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