EFEITO CHINELO
Leo Mesquita
 
 

A mãe veio de chinelo em punho, estava enfurecida e não podia acreditar na covardia do filho mais velho. Olavo tinha batido no seu irmão caçula porque ele era um chato...

O diretor de vendas está dando aquele sermão, sabe que a qualquer momento seu nome vai surgir. Quando o diretor olha na direção de Olavo ele lembra do chinelo. A mão erguida no alto e a sola preta imunda. Usa o efeito chinelo e em breve está na sala ao lado tomando café.

Chega em casa e a mulher vem com as reclamações diárias. Depois de anos juntos, brigas parecem ser um esporte conjugal. Ele tem certeza que sua esposa sente profundo prazer em amaldiçoar tudo o que ele faz. Usa o efeito chinelo e quando vê está na cama transando com ela.

No carro indo para o trabalho tem um congestionamento razoável. Efeito chinelo e está na porta do trabalho. Uma pilha com as pastas dos perfis dos clientes para analisar. Centenas de ligações para fazer. Dependendo do tipo de resposta dos clientes usa o efeito chinelo para pular para o próximo cliente.

Domingo. Dia de ir na casa da mãe de Olavo. Ela sentada no sofá velho, a televisão ligada, o cachorro deitado no canto, o irmão vendo desenho animado e um cheiro de mofo no ar. Ele com sua mulher imaginando quanto tempo vai levar para irem embora, é mais uma daquelas malditas horas paradas. A mãe pede para que ele dê remédio para o irmão. Aquele que ele batia quando pequeno, batia porque não entendia que o caçula era retardado, que sofria de problemas mentais. Para Olavo era só um idiota que enchia o saco. E ele dava muita porrada. No começo a mãe não desconfiava, até por ser daquele jeito, o mongo se machucava sozinho direto. Mas um dia ela pegou Olavo no flagra. Veio com o chinelo na mão. Deu na cara dele e continuou dando sem parar, até que seu rosto sangrou. Ficou todo cortado com marcas do solado. Consegue sentir até hoje o cheiro do sangue.

 
 

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