MINHAS HORAS PARADAS
Patrícia da Fonseca
 
 

. e de onde eu vim, havia graça e leveza. Do céu, eu escutava o canto dos passarinhos. Do mar, o barulho tão suave das ondas. O sol brilhava e esquentava minha vida, o luar, clareava meus passos através da noite. Em cada canto, um sorriso, em cada rua, a tranqüilidade. As horas passavam. Ficávamos na areia, na beira do mar. As ondas vinham lamber meus pés. Meus dias tinham sempre mais de 24 horas.

. e agora onde vivo, há pressa e impaciência. Do céu, escuto o ronco dos aviões e os gritos dos operários, construindo os arranha-céus que arranham o céu desta imensa cidade. Penso que o sol deve brilhar acima das nuvens de poluição e talvez exista uma lua cheia, lá em cima, rodeada de estrelas faiscantes. Em cada canto, expressões fechadas, em cada avenida, estresse e irritação. As horas correm. Fico na beira da calçada, vendo a vida correr através de pessoas, carros, motocicletas. Ninguém pára. Ninguém me diz bom dia, boa tarde, boa noite. Fui conhecer o rio, mas estava tão poluído que fiquei com medo de colocar meus pés para senti-lo.

Minhas horas correm. Meus dias têm menos de 24 horas. Faço tanta coisa e parece que não fiz nada. E chega o final do dia e me encontro surpreendida. Que lugar é este? Nesta noite escura, lembrei da minha vida de antigamente. Lá onde a vida era vivida, o céu era azul e as horas, paradas

 
 

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