POR UM MOMENTO UM DESEJO
Guilherme Lima
 
 

Rita entrou no bar e pela primeira vez percebeu que Paulinho estava sozinho. Rita tinha passado por poucas e boas na vida; magrinha, olhos fundos de noitadas infinitas, cabelos longos e negros e, no entanto bela, tinha mania de silêncio embora falasse como se estivesse berrando, sua saúde não era muito boa, talvez por causa de algumas passagens em clínicas de desintoxicação, mas tinha nervos de aço. Como por impulso, esse que ela tinha de se aproximar das pessoas sem se preocupar se as incomodava ou não, foi até a mesa de Paulinho.

Paulinho estava cabisbaixo, as garrafas vazias na mesa deixavam perceber que esse era seu remédio para tanta amargura e solidão, o motivo era que Rosinha, sua paixão, fugira com seu melhor amigo transformando em tristeza o que antes era só alegria. Paulinho tinha os olhos inchados, e nas mãos uma pequena tremedeira, na verdade mais um charme das suas noites de boêmia, sem nervos de aço, sem sangue nas veias e sem coração, ele decidiu não mais se apaixonar e a desejar mil vezes a morte do que sentir novamente, a dor de ser abandonado.

Rita puxou uma cadeira e perguntou se podia sentar, fazendo isso antes mesmo que Paulinho pudesse dizer não, os dois se olharam, aquele olhar de que mesmo sem se falar um sabe exatamente o que o outro está pensando, eles riram bastante e Paulinho pôde novamente sentir seu coração, ao mesmo tempo em que Rita pôde curtir mais uma nova emoção. A noite passou como um relâmpago, a luz apagou e o dia amanheceu, Rita foi embora sozinha, na mesa, um garçom servia outra cerveja, embora nunca mais eles tenham se encontrado, perceberam, mesmo sem ter trocado um simples beijo, que tinham compartilhado por um momento, o desejo, de ter o outro ao lado seu.

 
 

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