À FLORA DA PELE
Mylena Silva
 
 

Fazia muito tempo que esperava por aquele dia, por aquele sublime momento com alguém que era personagem constante dos seus mais intensos e doces sonhos. Estava na cara, e no olhar desconcertado que fitava os seus passos, que ele também a queria tanto ou mais, e ela tinha sim, que ter nervos de aço, ao menos naquele instante, naquele primeiro instante.

Imaginou então, que talvez por querer o mesmo, ele tenha deixado derramar sobre a mesa metade do vinho tinto que o aquecia naquele entardecer predominantemente frio, apenas por vê-la adentrar vestida de um vermelho que combinava com seus lábios. Não podia estar errada. Tudo indicava que aquele convite não era apenas de um amigo, era muito mais que isso.

Sentou-se à mesa esperando a quebra daquele álgido emudecer. Com delicadeza o cumprimentou perguntando como havia passado o dia. Era certo que fazia poucas horas que haviam se encontrado. Mas já parecia uma eternidade. Era uma sexta-feira, dia frio que pedia uma companhia especial, e aquele convite era algo esperado há muito.

Ele nada falou, extasiado com o momento, com o que via diante dos seus olhos agora submersos em lágrimas que teimavam em escorrer por sua face. Ela, temendo o que viria depois, resolveu quebrar o torpor que parecia existir naquele momento. Não existiam mais nervos, nem de um, tampouco de outro. Arriscou sentar-se mais próximo e perguntar-lhe o que se passava: será que não era aquilo que ele queria? Será que se arrependeu de convida-la? Surpreendeu-se com o rompimento do temido silêncio de forma tão súbita e inesperada:

- Já não suporto mais a maldita falta que você me faz quando não estamos juntos - disse ele - tenho que confessar que te amo, e confesso que prefiro a morte a viver longe de você...

Um doce, ardente e apaixonado beijo tornou o ambiente novamente silencioso, um silêncio agora com tempero nobre. E rubro.

 
 

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