UM TALENTO ESPECIAL,
UMA SORTE INESPERADA

Clarice Villac

 
 

Naquela tarde de terça-feira, vinha Luzia pela rua, pensando.

Em seus quinze anos, buscava algo que lhe indicasse uma vocação, logo teria que decidir sobre uma profissão...

Mas não havia o que se destacasse nela... era aluna regular, nem brilhante e nem péssima... Não gostava muito de matemática, mas conseguia se sair bem, não tinha facilidade para línguas, mas até que tirava as notas que precisava...

Admirava pessoas que desde cedo aprendiam a tocar violão, até mesmo sem professores, de ouvido... Mas já havia tentado, não era afinada, não tinha dom para música...

Não era grande esportista, gostava de nadar, mas as competições não lhe atraíam, jogava vôlei na escola, porém sem grande entusiasmo...

Em meio a seus pensamentos, parou distraída aguardando o semáforo abrir para atravessar a rua... E de repente, veio vindo um cachorro, correndo assustado, e foi pela rua, sem esperar nada... Luzia se assustou, dois carros já estavam apontando, rapidamente virando a esquina, e gritou alertando os motoristas !

Deu tempo, ouviram seu "Cuidado !", diminuíram a marcha e conseguiram parar antes de alcançarem o cachorro, que além de assustado estava confuso e ziguezagueava na incerteza.

Luzia foi até ele, e mesmo sem entender como, falou com ele e o conduziu até a calçada.

Era na verdade uma cachorra, de cor marrom avermelhada e com manchas pretas e amarelas. Olhinhos perdidos, pretinhos e que pareciam falar. Luzia compreendeu tantas coisas naquele olhar, que dali para frente não teve mais dúvidas.

Foi com ela para sua casa, deu-lhe água, comida, leite, um paninho macio para deitar e um cantinho sossegado para descansar.

Enquanto isso, telefonou para uma amiga que tinha cachorro, conseguiu falar com uma veterinária e foi descobrindo os melhores modos de cuidar da cachorra que dormia.

Quando seus pais chegaram do trabalho, encontraram sua Luzia com um sorriso tão iluminado, que até se esqueceram de todo o cansaço, há quanto tempo a sua menina não parecia tão feliz !

Apesar de esta família nunca ter tido animais de estimação, desta vez não houve dúvidas, e a cachorrinha passou a se chamar Mimosa. Logo descobriram que na verdade era branca malhada de preto e amarelo, depois do banho que Luzia lhe deu no tanque, com água morninha, que fez chegar desde o chuveiro, com uma mangueira bem grande que providenciou...

Assim, seus pais perceberam que ela sabia muito bem resolver as coisas, e Luzia soube que tinha o talento de enxergar o que é importante e está oculto, como nos olhinhos pretos de Mimosa, que agora tinha a sorte de uma nova vida, demonstrando ela mesma seu talento de retribuir com amizade e carinho a dedicação de Luzia, que agora tinha a sorte de ter Mimosa sempre lhe guardando os passos, o sono, o coração.

 
 

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