DE BLACK-TIE
João Rodrigues
 
 

- Onde você está indo?

- Ao Bingo Arpoador, querido! Respondeu Letícia com uma pontinha de ironia.

- Eu não sabia que você gostava de apostar!

- Azar no jogo, sorte no amor; o que vale também para o oposto.

Ela era bonita e talentosa. Talvez isso impedisse que Humberto não lhe fizesse muitas perguntas quando ela decidia fazer algo. Ele, um simples cafetão, realmente não tinha muito que decidir a respeito dela. O melhor era ficar calado ou simplesmente concordar com um aceno de cabeça.

Ficou lendo Fernando Pessoa no seu pequeno apartamento em Copacabana, simples, mas o suficiente para não reclamar muito da vida. Gostava de Letícia e até sentia um pouco de ciúmes, é verdade, mas essa era a sua vida; ou melhor, a única que ele sabia viver. Tinha mesmo é que ficar calado. O silêncio é uma grande virtude.

Uma frase lhe veio à cabeça: talento e sorte. Isso! Não precisaria mais do que isso para passar um ótimo fim de semana em Angra dos Reis. Azar no jogo, sorte no amor; o mesmo vale para o oposto. Letícia não era feliz com ele e ele perdia sempre. Eureca!!! Ele ou ela, tanto faz.

De black-tie, dirigiu-se à Atlântica, pegou um táxi.

- Bingo Arpoador.

Do posto 3 ao 6 ele foi observando a avenida. Prostitutas, travestis... Foi ali que tudo começou. Letícia ainda era uma desconhecida. Ela tinha talento, pois logo percebera que ele era o que faltava em sua "carreira"; ele tinha sorte, pois a encontrara numa certa noite. Boas recordações. Quem sabe hoje pode ser noite igual àquela!

O raio não cai duas vezes no mesmo lugar, mas a sorte... quem sabe. No jogo, no amor... no cassino, tudo pode acontecer.

 
 

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