A ÁRVORE E O HOMEM
Vera Vilela
 
Outro dia quando você passava, ficou bravo comigo porque minhas folhas caíram e forraram sua passagem.
Você se sentiu incomodado com o verde no meio de seu caminho e esbravejou.
Não teve como eu evitar, mas, decidi então fazer um tapete de ouro com minhas flores para enfeitar sua vida.
Quando você viu o caminho colorido e perfumado você disse:
-Árvore maldita que só suja minha vida.
Veio então um homem e me cortou.
A pessoa que de mim tratava, sentiu, chorou, mas nada pôde fazer.
O alto verão chegou.
Os passarinhos passavam e não mais me achavam, voavam em círculos, desconsolados por perderem seus galhos de repouso.
O sol quente batia forte sobre meu tronco.
Você passa feliz, coloca o pé sobre mim e diz:
-Este tronco está enfeando nossa rua.
Veio então um homem e decepou meu último fiapo de vida.
A rua ficou triste, vazia, sem vida e sem cor.
Os pássaros se foram, as pessoas já não sorriam.
Porque ali não mais havia a sombra.
O homem envelheceu em sua casa pelada, sem animais, sem plantas, sem cores e sem vida.
Morreu. Em seu túmulo nada nascia, ainda que plantassem.
Ao seu lado, uma árvore com as mesmas flores amarelas nunca mais floresceu,
Desde o dia que o enterraram ali: a sua sombra.
 
 

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