FRÁGIL INDIFERENÇA
Carla Deboni
 
 

Mais uma vez saio à procura da fragilidade. Aquela que se esconde por debaixo da porta, que foge dos pés se esfregando nos tapetes já cansados de tantos passos e repasses. Que se desfaz com um simples sopro, delicada penugem que estremece ao simples toque.

Quero saber de onde ela vem. As origens traçam caminhos que às vezes se apresentam como a única forma de encontrar soluções. E, a partir delas, buscar decisões. E canções. Para compreender a incapacidade de se expor a fortes intensidades, aos riscos que colorem a pele já tantas vezes cicatrizada. Ou supostamente cicatrizada.

Engraçadas essas feridas que talvez imaginei existir. Confesso que já não posso distinguir vida e sonho, vida e pesadelo, vida e alucinações. É tudo uma amálgama que me faz desejar o que ainda não foi. Estranho sofrimento solitário que me flagela.

Como desejar a presença do inexistente? Talvez o vazio do que ainda espera para acontecer. Ou, ainda, vivências alheias que entram no corpo feito cupim, nutrindo a vontade de também experimentar, numa espécie de inveja solidária que registra desde já o imperativo capricho do querer.

Só sei que sinto falta.

 
 

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