CÍRCULOS
Carlos Bruni
 
 

Renato saiu do bar com a cabeça rodando. Ipanema zunia à sua volta e ele subiu a rua tropeçando em pensamentos perdidos entre Júlia e Mariano.

Caminhou até a beira da Lagoa e ali parou como se houvesse uma união entre aquelas águas e a de seus olhos.

Num gesto mecânico, pegou uma pedra e atirou-a nas águas. Seu olhar se fixou nos círculos formados na superfície e a seus pensamentos vieram as imagens de Júlia, Mariano e a dele próprio, nesse mesmo lugar, brincando de jogar seixos naquele espelho líquido.

Conheceram-na no Bofetada, entre um uísque e outro. Vinda de uma paixão desfeita, insinuou-se entre ambos naquele que era um tempo de atenções recíprocas. Foi aceita com naturalidade, mesmo quando dormiu com um, com outro ou com ambos. Desde então, transmudaram-se em três pedras caindo juntas na água, formando círculos entrelaçados.

Tenso, Renato atirou com raiva outra pedra ao lembrar do inesperado casamento de Júlia e Mariano, sem outros avisos que não o das proclamas aos quais poucos se atém. Sentiu-se machucado com tão inimaginável ato, mesmo admitindo nada a vir dela poder surpreendê-lo. O cerne da ferida, contudo, fora aberto por Mariano a quem imputou uma traição.

Em raiva crescente, atirou à água um punhando de pedriscos. Ainda que visse círculos se misturando, a geometria realista, mais forte, mostrou-lhe cada qual a afastar-se de seu âmago.

As águas voltaram à sua calma contraditória e sussurraram a Renato ser o tempo de ele estabelecer seu próprio círculo, em cujo centro encontraria a paz.

 
 

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