FECHAMENTO PARA BALANÇO
Diana Benson
 
 

Era 2ª. Feira. Que dia mais chato para começar qualquer coisa! Dá uma preguiça...... Por quê será que este dia é tão antipático? Mas..... enfim, não tinha jeito.

Olhou para as prateleiras de caixas empilhadas. Todas certinhas, uma em cima da outra. Continham meias. Meias coloridas, lisas, estampadas, brancas. A numeração, aparente nas embalagens - P,M,G,GG, masculino, feminina, infantil.

Era dia 31 de dezembro. O gerente precisava ter em mãos o montante do estoque físico para certificar-se de que o ano tinha sido bem sucedido. Que nada atrapalhara seu planejamento. Que poderia vislumbrar o ano seguinte com a mesma política gerencial. Em frente! Pegou o formulário apropriado, uma caneta, máquina de calcular, e munido destes apetrechos deu inicio à árdua tarefa! Contar meias!

A primeira prateleira terminada, fez uma pausa, pensando - ninguém é de ferro. Precisava de uma distração para não pirar. Terminar o último dia do ano, contando meias!

A praia, com este calor, estaria apinhada de gente, todos descalços. Ninguém com estas ridículas meias. Afinal, para quê serviam? Mais ou menos como as luvas, antigamente. Já tinham desaparecido do mapa.

Pensativo, perdeu-se em devaneios. Os pés. Sustentando um corpo. Coitados dos pés, com toda a responsabilidade de segurar em posição vertical um amontoado de ossos. - Chega. Assim não dá. Vou pirar. pensou. Preciso acabar com isto - .

E voltou à sua tarefa. Foi para a segunda prateleira. Ao terminar e passar para a terceira ( só faltavam 2 mais), descobriu que as caixas estavam todas vazias. Não existiam meias dentro delas! Tinham desaparecido. Em desespero, continuou até a última caixa e constatou que todas estavam assim. Como prestar contas desta situação? Não tinha economias para saldar isto. Alguém roubara a mercadoria e deixara as caixas intactas. Desespero. Adrenalina no bater acelerado do coração, frio de angustia no estomago. Teria sido falta de controle da parte dele? Ou quem sabe confiança excessiva nos funcionários? Atordoado, tentava descobrir algum culpado.

E num gesto heróico, decidiu abandonar tudo isto. Foi à praia. Descalço. A areia entre os dedos, o calor do sol queimando a pele. Libertar-se. Da monotonia de sua vida. Da burocracia da existência. Fechara para balanço e constatara que tudo estava tão condicionado que não conseguira prestar atenção ao simples cuidar de umas pobres caixas de meias. Pudera! Elas sufocavam os pobres pés. Era preciso libertá-los. Deixá-los respirar. Devolver-lhes sua liberdade.

E assim o fez com seu próprio existir.

 
 

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