NUNCA HOUVE
José Luís Nóbrega
 
 

Não havia mentira, não havia verdade. Não havia a ira, não havia o contentado. Não havia certo, não havia o errado...

Não havia felicidade, não havia tristeza. Não havia cumplicidade, não havia lealdade. Não havia o bem, não havia a maldade...

Não havia perdão, não havia culpado. Não havia o santo, não havia o crucificado. Não havia amor, não havia o pecado...

Não havia sorte, não havia desgraça. Não havia o fraco, não havia o forte. Não havia vida, não havia a morte...

Não havia rancor, não havia ternura. Não havia a beleza, não havia o horror. Não havia o sofrimento, não havia a dor...

Não havia canção, não havia silêncio. Não havia o som, não havia a criação. Não ódio, não havia paixão...

Não havia fúria, não havia a fala. Não havia o grito, não havia calma. Não havia corpo, não havia alma...

Não havia procura, não havia encontro. Não havia ditadura, não havia censura. Não havia lucidez, não havia loucura...

Não havia remédio, não havia doença. Não havia o tédio, não havia descrença. Não havia o agora, não havia presença...

Não havia mudança, não havia espera. Não havia paz, não havia guerra. Não havia o Sol, não havia a Terra...

Não havia saída, não havia entrada. Não havia partida, não havia chegada. Não havia o fim, e sem ele, a certeza de que nunca... houve nada...

 
 

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