ENCONTROS REAIS E IMAGINÁRIOS
Leila de Barros
 
 

Às vezes sou acometida por uma nostalgia barata, como perfume vendido em feiras livres.
Uma nostalgia que penetra nas narinas e na alma, feito almíscar.

Sinto saudades de aromas e sensações, de vozes, de cores e até do vento, saudades de partes da minha alma, que talvez estejam dobradas em origamis.

Sinto que sorrir é preciso. Caminhar com os pés sobre as ondas rasas que regurgitam também é preciso. Ando calculando demais, usando ternos demais e as muitas tarefas me fazem delirar.

Não sei onde deixei meus vestidos esvoaçantes e meu chapéu branco de praia. Carrego um coração na mão e uma maleta na outra. Não tenho tido tempo para me balançar nos sonhos de abril.

Meu último encontro comigo foi há algum tempo...

Por agora, meus desejos são mais frugais, como a toalha xadrez das mesas de restaurantes comuns. Meu apetite aponta para os campos de linhaça e trigo, os quais observo envergados ao vento, submissos e firmes.

Tenho lido menos notícias fatalistas, tenho pensado menos na sucessão presidencial, tenho apostado menos nos fracassos sociais. Evito dar corda no relógio, prefiro andar sem rumo e sem peso. Ando preferindo o som de violinos ao som de críticas ácidas.

Meu último encontro com o jornal Nacional foi há muito tempo...

Parei de brigar com as notícias.

Ando assim, meio nostálgica... Parte de mim anda com os pés nas estrelas e outra parte, anda bem telúrica, sentindo o cheiro da salsa e do manjericão em forma de perfume para os lençóis de linho.

Tenho me deitado em berço esplêndido e em um dorso macio, sempre tomando a precaução de desligar a TV antes de adormecer, para que não ocorra como em meu último sonho, em que discursei com os doutores da lei.

Nesses sonhos geralmente eu começo a voar com vestes sumárias sobre os telhados alheios... Meus vizinhos já reclamam de suas antenas parabólicas quebradas...

 
 
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