ENTREVISTA COM POODLE
Luiz Carlos Rufo
 
 

Cinbren Cherwilene Mirage Foxfire Pinocchio III é figura notória por sua multipla visão a respeito dos problemas advindos da humanidade em direção aos animais de baixo raciocínio. Defensor da teoria das Super Cordas e da divisão do cérebro em três categorias, como explicação para maldades determinantes em espécies singulares, como a dele, por exemplo.

É contra todo o tipo de discriminação seja pela cor ou por informações geneticamente diversas e segue século adentro refletindo e nos empolgando com suas mais recentes publicações no campo da veterinária quântica. Produz ininterruptamente, já que seu tempo de vida é três vezes menor que a do ser humano economicamente desperto.

Os fatos.

Reconheça-te agora ao ler esse incrível texto inacabado "Entrevista com Poodle" e saiba que sem ele, o texto, você será ninguém. O jornalista, um deles, eram muitos, ajudou-me só um pouco a organizar a lembrança, mas a essência é toda minha. Pertence a mim. Não esqueça disso.

Só resolvi tornar pública essa minha história pois tenho simpatia para com os jornalistas - sei o que está pensando, mas fica entre linhas. Mantive meu nome incógnito por todo o período, pois não quero causar dissabores aos meus chegados já que dinheiro não vou ver mesmo, já estou acostumado ou me acostumando. Sou um ex-professor inválido, hoje, como me orientou o jornalista, se pronuncia " o portador" é chique, mas eu prefiro inválido, é digno com a verdade da qual sobrevivo e corrobora com o ela do que tenho para contar - se é que vai me ouvir até a elucidação final. Preservo minha individualidade, sou diagonal. Sim! D-i-a-g-o-n-a-l. Aposto que nunca ouviu isso. Pois bem, a vida é curta.

Atropelado sobre a calçada por uma bicicleta que trafegava em disparada em decida acentuada, quando eu estava de costas. Covardia não é? Parte do meu braço foi arrancado, doloridamente e engastalhou-se nas ferragens, foi gozado. Além de inválido - paralítico é meio feio - com o tempo perdi o emprego e um pouco de respeito por mim mesmo. Incrível como passei a me querer mal.

Ante que você pergunte, ele, o ciclista responsável, nunca conheci. Desmaiei de dor na hora do impacto. A história do braço engastalhado, acho que sonhei. Tenho uma foto que foi tirada por um transeunte casual e que gentilmente presenteou-me - isso é presente? - , mas o jornalista não viu necessidade de mostrar.

Como nem tudo e desgraça logo me dei conta, aos poucos, como se acordando vagarosamente, que um novo DOM, uma nova habilidade entre eu e o mundo nascia e estava, aos poucos, crescendo em mim. Pois é, eu falo com alguns tipos de animais. Pronto. Não é o que você queria que eu falasse? Descortinou-se para mim um novo mundo e com ele novas personalidades que nunca havia sonhado existir.

Mas do que vale esse talento num mundo onde tudo é descaso, mal-visto, esteriotipado? Onde tudo é procrastinado, esquecido? Então pensei: "Se eu, um ser humano incompleto (hum!), sou assim desprezado, imagine você sendo ele um animal?". Resolvi fazer uma serie de inquirições com os bichinhos já que ninguém tem tal preocupação.

Descobri, neste agora mundo diverso, uma personalidade instigante e apenas percebida por quem tem o DOM de locupletar, como eu, ou por seus pares. Vou resumir a conversa, pois o jornalista me repreendeu, com delicadeza, sobre o espaço que poderemos ocupar.

A entrevista.

Eu - Senhor Cinbren Cherwilene Mirage Foxfire Pinocchio III preocupa-se atualmente com a qualidade calórica das rações que lhe são oferecidas?

Senhor Cinbren - A filosofia no século 20 encerra reflexões sobre vida, velhice e morte que não podem ser desconsideradas, tão poucos aspectos sobre o que é direita e esquerda dentro de um conceito que então já se tinha como principais nas matizes para a reflexão em obras sobre guerra e paz, direitos humanos e democracia. Declaro-me anti-facista, iluminista e pessimista e sendo assim repudio a maioria das vitórias obtidas em nome da preservação da liberdade e admito, como grande fonte de inspiração a prática diária da filosofia, a lembrança da queda do muro de Berlim e o desafio de resgatar a democracia já corrompida em um meio estagnado pelo impasse esquerda-direita.

Eu - Dando prosseguimento ao seu raciocínio...

Senhor Cinbren - Se me permite, sei que suas perguntas serão referentes aos maus tratos que recebemos por parte da inconsciência vigente entre a raça lúcida e motorizada, mas devo lembrá-lo que sou, apesar de ser professor de filosofia e direito e que nos anos de minha formação convivi com pessoas marcantes e grandes historiadores, muito crédulo. Considero marco importante e de caráter politicamente asséptico esse período em relação aos problemas que ainda terei, ou teremos, que enfrentar. Desconfio de políticas excessivamente idealizadas; defesa do governo para com as leis que são contra o governo dos que são homens, opto pelo exercício do espírito crítico contra os dogmatismos opostos dos católicos e dos comunistas. O socialismo liberal não nos interessa. Minha posição e a de negação sobre questões, que sei, apontam para a derrota do bom senso, justiça sócio-animal e democracia. Sobre nós paira uma conquista burguesa, pequeno burguesa, que será descartada nesse novo século, talvez, com salvação e revolução dos conceitos arraigados pela política e cultura que permitam a instauração do desenvolvimento da convivência pacífica entre as raças, sub-raças e raças consideradas terciárias. Direitos humanos, democracia e paz fazem parte de um movimento histórico não só para animais, mas para os minerais, vegetais, enfim todo o planeta.

Eu - Os animais devem compreender seus donos...

Senhor Cinbren - Sem intenção de interromper, as questões são maiores. Sem direitos reconhecidos e protegidos não há democracia, sem democracia não existem condições mínimas para soluções pacíficas dos conflitos. É melhor encerrarmos por aqui.

 
 

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