A HORA DA ESTRELA
Ro Druhens
 

Quem os apresentou foi o Acaso e ela estava fantasiada de sonhos.

Era toda cor-de-rosa como deveria ser a Esperança que de verde não tem nada além do fato de nunca ficar madura o que a transformaria em Certeza. E usava uma máscara como se fosse a um baile em Versailles no século XVI que escondia todas as marcas que vida fizera em seu olhar em seu sorriso toda a dor de tantas lágrimas que deixaram covas em seu rosto. E usava longas luvas que lhe escondiam as mãos incapazes de qualquer gesto posto que os fizera em vão no tempo em que ainda acreditava que gestos houvesse que valessem a dor de viver.

E ele elegante e discreto em seu traje de noite sem nenhum adereço que ocultasse nada de seu rosto de seu corpo de suas mãos a convidou pra dançar.

Ela já esquecera os passos de todas as valsas os rodopios os volteios. Teve medo de pisar-lhe os pés mas a fantasia de sonhos a fez dançar.

E dançaram por todo um tempo que não se conta nos relógios. O calor da mão dele à suas costas foi fogo bastante pra incendiar-lhe as entranhas e a voz dele em seus ouvidos era a música que fazia seu coração bater em compasso de valsa. E as promessas e as juras foram construindo em torno dela uma muralha de desejos que de tão alta ela pensou impediria que o mundo real penetrasse no encantamento daquela dança.

E dançaram pelas estrelas da via-láctea pelos anéis de Saturno por desconhecidas galáxias onde só o amor dançava. E dançaram até à Luz. A luz que transpôs a máscara e expôs o rosto dela cansado. A luz que rompeu as luvas e revelou as mãos sem gestos. A Luz que enfim os mostrou um ao outro o que de fato eram. Ele iluminado. Ela uma sombra opaca.

Foi quando apareceu naquele céu o arco-íris que ele a soltou de seu abraço e ela escorregou vestida de trapos pra muito além do fim do mundo.

Mas levou com ela, trancafiado no peito , um coração fosforescente. A luz que era ele .

E virou uma estrela.

 
 

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