MAJESTADE À PARTE...
Doca Ramos Mello

Bonito foi. Fiquei fascinada quando vi V. Exa. Metalurgíssima na casa da rainha, ai, que orgulho, a rainha cheia de rififi e o primeiro presidente trabalhador do Brasil (antes dele só tivemos desocupados, JK, Dutra, Prudente de Morais, Castelo Branco etc, uma horda de boas-vidas) mal entra na carruagem da coroa e já vai sentando na janelinha, isso é que é competência! Nunca antes nestes país houve um presidente que alcançasse essa honra, menos ainda com a roupa que lhe desse na telha, sem se render às majestades...

...FHC também foi a Londres um dia, mas nem conseguiu vaga na charrete (é outro desocupado que, para nos envergonhar mais ainda a nação, fala inglês pelos cotovelos, dá palestras, exibe diplomas, um constrangimento isso) e ainda se submeteu a usar o traje de pingüim de geladeira que a rainha exige. Exigia. Porque V. Exa. Metalurgíssima mostrou bem p'ra ela que o trabalhador não se dobra a essas esquisitices de cerimonial, negócio mais besta, sô, e usou mesmo foi terno. Depois, apareceu na capa do jornal com aquele meio sorriso de quem já tem contadas as favas da reeleição, graças naturalmente em especial aos irmãos nordestinos de cujo sangue se alimenta, que lindo!

Sou mesmo fascinada pela esperteza de V. Exa. Metalurgíssima! Não duvido nada que esteja bolando outros projetos de inclusão social para 2006, como o Vale-Cachaça (relax popular), o Bolsa-Pagode (diversão e arte), o Programa Água Zero (mangueira cheia tipo Delúbio para todos), o Projeto 100% Guerrilheiro (ou Volta, Zé), o Vale-Okamotto (distribuição de amigo do peito) - já ganhou!

Os jornais ingleses elogiaram muito o nosso presidente, eles lá sabem declamar Shakespeare, Byron, mas não entendem patavina de tupi-guarani, não sabem o que é mensalão, valerioduto, caixa 2, essas coisas, porque não há tradutor capaz de verter exatamente essas imprecisões terminológicas para o inglês. Assim, os jornalistas londrinos optaram pelo politicamente correto: falar maravilhas do Brasil e do presidente, afinal nós somos o terceiro mundo, um povinho remelento e cheio de mazelas, manda a boa educação que os ricos sejam caridosos com os pobres.

Além disso, eles acreditam que nós temos jacarés desfilando pelas ruas, macacos atravessando as conversas e cobras debaixo dos travesseiros, vai ver não julgaram conveniente dizer alguma coisa desabonadora - é o folclore. Os europeus adoram o folclore, mas com tantos séculos de janela de carruagem, os ingleses devem avaliar, lá debaixo do 'fog' deles, que V. Exa. Metalurgíssima no país dos outros é refresco.

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