FASCINAÇÃO
Juraci de Oliveira Chaves
 
 

Saudades... apenas saudades...

Elas chegam calmamente, acomodam-se e nos apanha meio desprevenidas; instalam em nosso coração e nunca mais desaparecem, transformando-se, com o tempo, em doces e ou amargas lembranças.

Dessas lembranças todas, a mais linda e terna, que em nós habita, é aquela da adolescente que fomos um dia, porque, pelo menos alguma vez, tivemos a capacidade de sonhar com um amanhã melhor, mesmo que adivinhássemos que nunca poderia ser alcançado. E eu também sonhava. Era só um sonho, sonho de menina que nunca poderia ser verdade. Menina também sonha e pensa que pode tornar real este sonho. Era quase invisível em minha tela mental. Era como olhar o céu ao amanhecer na mata fechada, quando o sol ainda está abaixo do horizonte e as extremidades do mundo se abrem na direção da luz. Fascinação! A mata se abria para a luz. Luz dos meus olhos pequeninos, mas que já sonhavam. Olhos brandos e lágrimas derretidas em tons de tristezas ou alegrias, no rosado da face. Sentia o brilho fogoso fluindo pelo corpo, o sangue a borbulhar na veia. Como se o sangue falasse e se transformasse em desejos. Não sabia o que era desejo, mas o sentia na pele. Não conhecia o breu da mata porque o breu era luz para a minha debandada. Tateava com facilidade abrindo desvios na mata densa mesmo debaixo de um vendaval que derruba frondosos jequitibás, aroeiras milenares e até a mim. Não tinha relógio nem bússola. O sol era a estrela guia, a lua o momento de repouso e as estrelas, a fonte de sonhos e devaneios sobre um macio colchão de relva orvalhada. Fitava o firmamento, interpretava personagens fictícios, dava voz ao pensamento vestia-os de matizes coloridos que enfeitavam o meu palco de mata cerrada. Minhas cortinas se abriam uma a uma perfumando a minha saudade e a minha platéia de pássaros cantores.

Fascinação!

 
 
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