TENTANDO ESQUECER
Daniela Fernanda
 
 

Todos os sábados enfrentava o mesmo dilema. Quando encerrava suas funções do dia, tentava esquecer que ela deveria estar pronta, exalando o perfume de que ele mais gostava, e que o jantar, impecável como sempre, com certeza já deveria estar em processo de finalização e que sua bebida preferida provavelmente já deveria se encontrar na temperatura ideal para o consumo.

Como de costume, porém, não resistia àqueles encontros que não haviam sido marcados, mas eram sempre esperados com grande ansiedade pelos dois, durante a semana que teimava em passar languidamente.

Ele, então, subia depressa ao seu quarto, antes que alguém tivesse a oportunidade de fazer-lhe um convite de última hora, do qual teria que se esquivar, pois o desejo de vê-la naquele último dia da semana já se tornara obsessivo.

Alguém batia à porta, perguntando se ele iria jantar, mas a resposta aos sábados era sempre a mesma. Ele sabia que, se não jantasse com ela, correria o risco indesejado de magoá-la.

Banhava-se com rapidez, mas com capricho. Perfumava-se com o maravilhoso perfume que ela lhe trouxera de presente da última viagem que fizera. Vestia-se com esmero, elegendo propositalmente uma peça que já fora elogiada por ela. Finalmente pegava o capacete e saía. Evitava as despedidas, porque se envergonhava de estar fazendo aquilo.

Durante o longo caminho que percorria de uma cidade a outra, prometia a si e a Deus que, por mais que a amasse, aquela seria a última vez. Estava indo apenas porque ela era uma pessoa bastante meiga e muito, "muito" especial. Por isso ela não merecia que um relacionamento tão profundo e que já durava tanto tempo fosse terminado por telefone.

Quando chegava próximo à casa dela, fazia uma ligação e ela se encaminhava à frente da casa para esperá-lo. Formalmente cumprimentavam-se. Era como se houvesse uma grande cerimônia entre eles. Caminhavam em silêncio até a porta, enquanto ele, caminhando atrás, certificava-se do quanto ela era e o quanto ela estava linda naquela noite.

Somente quando a porta se fechava atrás deles, eles se permitiam cair um nos braços do outro e beijavam-se apaixonadamente durante o tempo que durasse a dor da saudade que sentiam.

Jantavam, conversavam, bebiam, riam, brincavam, amavam-se...

No início da madrugada, lutando contra o querer, saiam do quarto e respirando-se um ao outro, banhavam-se.

Antes de ela abrir a porta, ele parecia executar um ritual de adoração: ele passava lentamente as mãos sobre o rosto dela, o pescoço, os ombros, os seios, parando por breves segundos no ventre, enquanto permanecia com os olhos fechados em estado de transe. Beijava-lhe então mais uma, duas, três, dez vezes a boca e saía.

Domingo pela manhã, na hora da missa, sentia o peito apertado por não ter cumprido, mais uma vez a promessa feita tantas vezes. Entregava a hóstia aos fiéis da paróquia enquanto rezava e tentava esquecer o final de semana que já ficava para trás.

 
 
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