CONFISSÕES NA TRANSILVÂNIA
Carla Deboni
 
 

É com os passos apressados que esmago mais alguns quarteirões que vou engolindo pelo caminho. Estranha travessia que faz do orvalho o único reflexo de meus gestos agitados, perdidos em minha essência desordenada.

Vítima do exigente impulso de sentir-me amada, lancei-me novamente aos seus braços, oferecendo meu sangue e corpo para sua mera satisfação. Tomando-me, tirou-me a energia, a força, consumindo minha alma como se ainda existisse algo em mim que não lhe pertencesse.

De nada adiantam as artimanhas para me proteger de sua boca sedenta, ávida por vida. Ela me persegue, em meus sonhos mais recônditos, pesadelos mais presentes. Lá está ela, mais uma vez parasita da fragilidade de meu ser diante do seu olhar.

Estranho como os passos que estalam como tapas nas costas da noite somente exteriorizam a pressa que tenho em fugir de mim. Sei que depois de alguns minutos, a razão sairá de seu cochilo costumeiro e novamente me condenará. Vítima que sou do carrasco que eu mesma busquei.

É sem forças que busco a chave e entro em casa. Jogo-me na cama para encontrar no sono uma carícia que me sussurre: "Está tudo bem". Hora de fechar a janela. O pescoço já tem marcas suficientes do desejo que ainda há pouco queimava a carne. Não quero mais visitas inesperadas. Já basta meu próprio vulto zombando da fuga de minha imagem, que se recusa a mostrar a face no espelho da sala de jantar.

 
 
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