A FRUSTRAÇÃO DUM SINGULAR
Diogo de Castro Costa
 
 

"Como ao baralho o jogador,
Como à carniça ao parasita,
Como à garrafa ao bebedor
- maldita sejas tu, maldita!".

(O Vampiro - C. Baudelaire)

Virgem ou meretriz?...Eu que direi!
Apenas importa aos meus lábios saber,
Existem olhos para enxergar o verbo Querer!
E que assim seja! Será à guisa como a inventei!

Meu vinho carmesim que ofusca a sanidade,
De garras inelutáveis, sou caça e joguete.
Cravei na árvore até coração - no centro, Ivete,
Por esta, outrora, já cometi brutal leviandade.

Nem mil corações nas árvores fizeram-na amar,
A surdez estúpida não escuta a tal verdade.
Seus afagos espancavam a razão: eu a muito preciso,
Qual um mendigo catava as bagas de teus cigarros.

Restou daquela adolescente declaração piegas,
Dois infelizes cegos - um tolo e o canivete.
Mesmo cavando e tatuando no cerne,
Ela sugou minha vida, sou um cadáver!

Dor e Amor digladiam-se numa infeliz rima,
A paixão é exclusivamente bela pros apaixonados,
Pois, o macilento singular murcha o peito,
Sem plural eis a paixão dum único e só apaixonado.

Felizes e vivos são os que bailam juntos no plural,
Esses apenas não beijam, se beijam e são beijados,
Diferem da vítimas daquelas vampíricas estátuas,
Pois, eternamente apenas não amam: são amados!

 
 
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