AMOR SEM LIMITE
Ivone Carvalho
 
 

Queria estar bem. Bem comigo mesma, bem de saúde, bem com o mundo, bem com o meu coração, bem com quem eu amo.

Se estivesse tudo bem, certamente minha mente não estaria viajando numa velocidade sem fim, muito além do que o meu corpo, minhas mãos, meus dedos, minha capacidade física me permitem.

Haveria uma sintonia entre corpo e mente, entre alma e pensamentos, entre esperança e ilusão, entre emoção e razão, entre realidade e sonhos.

E eu, então, estaria produzindo dentro da minha capacidade intelectual, dentro das necessidades de produção que não só o meu dia-a-dia requer, mas que também me imponho e desejo.

Tenho plena consciência de que sou responsável pelo meu bem-estar, pelas minhas realizações, pelos meus compromissos, pelos meus anseios e por ter atingido o ponto que atingi, necessitando transformar em setenta e duas horas um dia de apenas vinte e quatro.

Certamente sou a única culpada por não me concentrar no presente, acelerando a minha ansiedade, talvez por temer a inexistência de um futuro próximo, com vida, neste plano.

Estou ciente de que a vida sempre vence, de que nada acontece por acaso nem antes do momento certo e de que podemos alterar nossos destinos usando o nosso livre arbítrio.

Porém, a ânsia de ver a solução de situações pendentes que necessitam ser resolvidas, tira-me o eixo, fazendo com que eu tenha a sensação de que há caminhos se cruzando dentro de mim, transformando o que é tão transparente em verdadeiro labirinto.

Pobres dos meus neurônios que, a cada atitude, se vêem agitados e enovelados, como se estivessem dentro de um liquidificador ligado ou de uma betoneira. Sinto-me ligada no duzentos e vinte. Sinto-me um vulcão em erupção, prestes a derramar suas lavas ilhando-se em meio a elas.

Sei que toda a agitação fervescente no meu íntimo, quer no coração, quer na mente, decorre de um motivo maior, o único que é capaz de realmente me desestabilizar, embora eu me desdobre para que não transpareça, a quem me cerca, o meu real estado espiritual.

O motivo gerador de tamanha artilharia em posição de ataque e defesa que visa tão somente a minha auto-proteção, independentemente da minha vontade - já que a vida tem me testado pacientemente, transformando períodos que tinham tudo para uma total felicidade, em fases de desgostos, tristezas, situações mal resolvidas ou insolúveis nos momentos que mais eu precisava de suas soluções - é realmente o único motivo que independe de mim, para me dar alegria, confiança, paz, incentivo, bem-estar, felicidade total.

Não tente interpretar estas declarações como uma manifestação de auto-piedade, por favor! Como já mencionei, tenho consciência de que podemos mudar o destino, optar por caminhos diferentes, escolher o que faz com que nos sintamos melhor, desprezar o que nos incomoda, selecionar apenas o que é fácil ou não tão difícil, ou mesmo possível, em vez de lutarmos pelo que ou por quem não pode ou não quer nos fazer felizes.

Porém, há coisas que são muito maiores do que nós mesmos, não porque não sejamos grandes, mas porque têm, realmente, um significado interior muito maior do que tudo que existe ao nosso redor, porque é o que nos move, dá sentido amplo à nossa vida, está enraizado em nossa alma por ter vindo conosco de outro plano, de outras vidas, de decisões, escolhas ou imposições sobrenaturais e que é o núcleo da nossa essência, da nossa existência.

Seria simples demais começar dizendo apenas que eu o amo, que o amo muito além do que a sabedoria humana pode avaliar, e concluir dizendo que sem você falta-me a força que me move, o ar que respiro, o calor que a sua luz me proporciona. E não precisaria ter dito mais nada, porque talvez apenas com essas palavras você me entendesse.

Entretanto, é tanto o que tenho para lhe dizer, para lhe dar, para lhe oferecer, que a impressão que tenho é de que por mais que eu fale, eu jamais conseguirei lhe transmitir o quanto você é importante para mim, o quanto eu preciso de você para extravasar todo esse amor que sempre foi seu e que quer ser entregue ao seu lídimo dono e que, de tão acumulado e calado dentro de mim, transforma o meu coração numa caldeira que já não consegue lidar com a pressão que armazena e precisa expor tudo que sente, para evitar a grande explosão que pode transformar tudo num caos ainda maior, já que o corpo assimila as dores da alma.

Sinto-me o meu próprio vampiro, sugando meu sangue pouco a pouco, até não restar qualquer gota que me permita continuar vivendo. É a impotência, a impossibilidade de tomar iniciativas e decisões que não competem a mim, que fazem com que eu me sinta assim. É a certeza de que não posso permitir o fim das esperanças, porque elas nos movem, nos fazem lutar, nos fazem correr o risco de alcançarmos a realização dos nossos sonhos. Mas, antagonicamente é, também, a ilusão de que você está me ouvindo e seu coração chorando, tanto quanto o meu.

 
 
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