VAMPIROLÂNDIA VERDE-AMARELO
Ronaldo Torres
 

O Congresso Nacional, apesar de ser um mal necessário para a democracia brasileira, transformou o Distrito Federal na Transilvânia Central, onde diuturnos vampiros, diariamente, abandonam seus sinistros ataúdes para cumprir a repugnante função de sanguessuga de um povo esquálido e anêmico.

Dizem que esse que ora oferecemos nossa jugular, é o pior Congresso de todas as legislaturas. O mesmo também se disse da legislatura passada, quando os nobres congressistas receberam sua malinha de dinheiro para votar a reeleição. E fazer vista grossa ao desmanche sistemático do país, patrocinado pelo Governo Federal. Venderam tudo para as multis, até a Vale do Rio Doce, que valia e vale ouro, foi vendida a preço de sucata. Só não venderam a Petrobrás porque o PSDB foi defenestrado do poder.

Também, em outras ocasiões, se disse cobras e lagartos dos homens de ouro da Transilvânia Central. Mas, naquela época, eles tinham certo pudor, falso, mas tinham. Tremiam ante os holofotes e temiam à voz das urnas. Hoje não. Eles não conseguem mais esconder a desfaçatez e atacam escancaradamente, geralmente em grupos denominados de "bloco", sem medo da água benta e do alho nas mãos dos eleitores. O cinismo é praxe e não precisam se esconder na escuridão da noite para tecer vôos traiçoeiros de ataques intravenosos a indivíduos de boa-fé que os colocaram de bandeja como seus representantes na Vampirópolis.

"O culpado disso é o próprio povo", sentencia a urbe civilizada, eximindo-se da culpa de não ser povo e transferindo a terceiros a carapuça que lhe cabe. Muito antes de ser culpado, o povo é a principal vítima desses seres hematófagos, enganadores, traidores. Vestem-se de cordeiro nas eleições e, uma vez eleitos, mostram seus dentes sanguinolentos e suas garras pontiagudas de lobisomem a uma platéia patética e paralisada pela decepção. Fingem que digladiam entre si em defesa dos interesses da nação e, nos seus confortáveis sarcófagos, longe da claridade reveladora, fazem conchavos escabrosos e acertos malsãos em íntimas e prazerosas conversas de compadrio.

O eternizado romântico Conde Drácula, se um dia aparecer pela Transilvânia tupiniquim para uma visita de cortesia aos seus pares, sentir-se-á ameaçado ante os escancarados e limados caninos dos nossos nobres representantes ditos democráticos, e voará rapidamente de volta à sua terrinha natal.

Com tantos vampiros gananciosos à solta, o secular Rei das Trevas corre o risco de ter cassado o seu título nobiliárquico, pois os integrantes do Congresso Nacional se arvoram do direito da deferência civil e somente os seus membros podem ser tratados de "excelência", apesar de não haver nenhuma nobreza de caráter nem de atitude, como assim exigem suas ilimitadas funções. Como se não bastasse tanto despudor, somente a eles devemos temer e a praticar o instituto da obediência servil ao lema "façam o que digo, mas não façam o que faço".

Ou, em outras palavras, em terra de banguela quem tem dentadura postiça come filé.

 
 
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