SEU QUERIDO VAMPIRO
Vera Vilela
 

A palavra "vampiro", de início, nos faz pensar naquele homem pavoroso, pele branca, presas enormes, capa e chapéu pretos que andava por aí mordendo jugulares de donzelas desprotegidas. Caso eles sugassem um volume excessivo de sangue às pobrezinhas viravam zumbis e eternas servidoras de seus algozes.

Por outro lado, e muito parecido, existe um outro tipo de vampiro.É desse que vou falar e advertir.

Este outro vampiro aparenta ser uma pessoa normal, que se veste como todos, e em nada lembra os filmes de terror. Pode ser um(a) vizinho(a), parente, amigo(a), namorado(a), enfim, alguém que pode estar aí do seu lado neste exato momento.

Ele se aproxima de suas vítimas quase que imperceptivelmente, é carinhoso, atencioso, meigo, prestativo, e vários outros adjetivos. Arma a sua rede devagar, vai se chegando e entrando em sua vida sem que você se aperceba. Sabe o momento exato de recolhê-la e trazer dentro: VOCÊ.

Quando menos esperar estará irremediavelmente dependente desta criatura tenebrosa, agressiva e calculista.

Só aí então ele começa a sugar sua vida, seu espírito. Aos poucos seu comportamento se altera, começa a fazer exigências, pedidos, chantagens emocionais, que convenceriam o mais sábio dentre todos os psicólogos ou psiquiatras conhecidos. Como um ser dependente, você dia a dia vai abrindo a guarda e deixando o monstro entrar, ocupando assim cada pedacinho de mente e alma.

Nem mesmo você acredita no que está acontecendo, mas não consegue voltar atrás.

Você muda, começa a se fechar; não conversa com quase ninguém, se dedica integralmente a ele, porque afinal, ninguém lhe entende. Todos tentam lhe abrir os olhos, mas você imagina estar certo e que os outros é que são invejosos e preconceituosos.

Quando menos esperar estará numa bolha, isolado do mundo, dedicando-se apenas a este senhor. Pessoa de hábitos questionáveis, rancoroso, agressivo, possessivo. Ele vai lhe sugando o amor próprio, dia a dia, com humilhações verbais e em alguns casos, até físicas, lhe fazendo ver que sua vida só vale mesmo para ele.

Quando longe de você, seu comportamento muda: é cavalheiro, dócil, gentil, e não se cansa de dizer em altos brados o quanto lhe ama e o quanto você é necessário para ele, pois precisa de álibis caso um dia você se liberte e resolva pedir ajuda. Mesmo que você pense em, talvez, se abrir com alguém e dizer de suas dúvidas, sua consciência não permitirá, porque ele é tão bem visto por todos, vive em sua mentira perfeita e friamente construída que ninguém lhe daria crédito. Nem mesmo você acredita que sua vida é ruim.

O vampiro então vai vivendo, tranqüilamente, sem grandes preocupações com o futuro, que logicamente sua vítima lhe proverá. Faz planos de vida em cima do esforço alheio e quase sempre se dá bem. A vítima às vezes acaba não agüentando o sanguessuga e acaba morrendo antes da hora, deixando seu vampiro bem abastecido de tudo aquilo que você construiu com seu esforço.

Mas não se desespere, se você está lendo é porque ainda tem salvação. Eu diria a você apenas uma coisa:

- Bote a boca no trombone! Grite! Conte a todo mundo o que está acontecendo. Não deixe que seu vampiro (seja namorado, filho, pai, tio, vizinho, etc...) sugue todo o seu sangue. Pare agora.

Os vampiros não gostam de muito alarde. Se a vítima grita, ele corre. Converse com as pessoas que realmente gostam de você. Peça suas opiniões e mude a sua vida. Nós todos merecemos ser felizes e desfrutar daquilo que construímos. Se for preciso abrir mão de algumas coisas, abra, mas: liberte-se!

Existe vida após você ser escolhido por um vampiro, acredite. Eu sei!
 
 
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