A MORTE
Marciano A. Santos
 
 

Da escuridão de névoa, o cavalo relincha. Um cavalo negro, olhos vermelhos como o sangue. Espuma corre pela sua boca grotesca. No seu lombo há alguém. Alguém estranho, alguém alto, encapuzado e coberto com um manto negro. A espada longa e cinzenta na bainha, uma cruz vermelha no pescoço e suas longas asas negras agora estão fechadas, descansando. Na mão direita, segura com firmeza sua foice de lâmina longa, afiada e mortal.

A morte vem como o vento, rápida, onipresente. Vem pelo cemitério, exalando seu odor cadavérico. Um murmúrio melancólico vem dos túmulos. Uma música doentia e melancólica. Vozes finas e cansadas, gritos graves e horríveis.

Os mortos cantam à sua presença, adorando-a pela sua majestade. Ela grita um grito estranho, nem agudo, nem grave. Animalesco, como um uivo e suplicante como um pedido de socorro. Passa pelos túmulos sujos, cobertos de hera e esquecidos. Lá dentro uma cantoria frenética quebra o silêncio da noite.

Não há lua, nem estrelas, é uma noite escura e fria. Os lampiões das casas na afastada aldeia, estão apagados, não há postes ou outras luzes. É assim que a morte gosta.

Alguns corvos sobrevoam o local, corujas agitam-se em suas tocas, sapos coaxam nos brejos subitamente, a música dos túmulos aumenta. A morte desce do cavalo e abre suas grandes asas negras. Com um impulso o anjo da destruição levanta vôo e contempla o cemitério que a glorifica. Ela se satisfaz. Então segue para a vila, irá buscar mais uma pessoa.