55
Chico Franco
 
 
Me levo ao tema anterior :
"Distância Enorme"
Éramos 55.
Quem me dera eu fosse você; ou você
Que uníssono magistral
poderoso e natural
de poesia
Todos nós gritamos.
Uma certeza : estamos vivos e ouvidos
Viva !
Nada é por acaso.

Minha veia estava seca e eu li você.
De novo, me entusiasmei.
Quem me dera eu fosse rei
mandaria reunir todos
55 cadeiras altas
ao redor de uma enorme mesa larga
e,
ao som de um vinho sutil
cada um declamaria sua escrita
para o gáudio dos presentes.
Para os envergonhados e roucos
, garanto que são poucos,
o privilégio da leitura silenciosa
na língua doce e charmosa
de um anjo eloqüente

Nos fartaríamos com certeza
pois aos 55 da mesa
se juntariam milhões
de vidas desajustadas
aos livros pouco versadas
mas cientes dos clarões
de luz, desejos e plenitude
emanando dos poetas
escritores e querências
numa enorme cornucópia
de seres serenos, humanos, terrenos
eu e você, no meio de todos eles.
Nesta cabala de força
inimaginável a tempos atras
mas agora eu sei e sinto
eu e você, no meio de todos eles.

Às armas, bravos infantes !
de agora e doravante
afiem mentes e sementes
que é hora de lutar
55 estandartes de guerra
profunda, sangrenta e santa
que venceremos agora ou depois
mas, venceremos, estejam certos
como 5 mais 5 somam 55
como dois e doidos fazem um luar.
Somos mais e muitas vidas
eles só são
carnes, ossos, egos e solidão.

Não se apiedem !
São cópias grotescas
de uma raça já extinta
guardados num jarro da vida
São peões de tabuleiro
Infelizes, vão, tropeiros
tocando a boiada na estrada
até o final dos tempos.

Não se apiedem !
pois eles, no triscar das facas cegas
já lhes roubaram muitas vidas
rasgaram todas as feridas
que alguém pode suportar
São irmãos aventureiros
prisioneiros do Sistema
não há luz e nem poema
que os faça acordar.

Quem me dera eu fosse...