QUEM DERA
Paula Cury
 
 

Quem dera conseguir colocar em branco, os sentimentos que me habitam em negro, carmim, negro-carmim, que consomem lentamente cada respiro pulsado. Crio imagens claras de vontades distorcidas. Crio e re-crio falas, tuas falas, sempre tuas em minhas respostas de sins, de eu quero, de eu vou, de vem. Mas qual o que, só penso e durmo, com você, o travesseiro que batizei com seu nome. Como dizer ao mundo que converso com um travesseiro e o travesseiro não é mais travesseiro quando abraço, cheiro, acaricio. É feito de carne, olhos, mãos boca... boca.. boca que procuro entre o algodão da fronha macia e fria. Sua boca que me faz sorrir, rir, gargalhar entre quatro paredes vazias e, você, imaginado, criado, reproduzido me olha e ri só ri da minha loucura de querer ser Deus. Se o mundo soubesse de tudo que falamos, dos ais e alívios, respostas e duvidas. Se o mundo soubesse da revolução que armamos, das mudanças planejadas passo à passo escritas em penas invisíveis. Se vissem a bandeira que hasteamos em glória ao amor feito em silêncio. Se soubessem.... se soubessem nossa invencibilidade de mãos dadas. Queria poder gritar ao mundo que somos nós, eu e você, que fazemos o mundo girar, o sol nascer, o mar revoltar e afundar em navios pesadelos alheios. Somos nós que criamos a vida e tudo e todos e mais... Nossa risada, ainda mais alta vai acordar os vizinhos... vai acordar o mundo e fazer morrer de inveja o mais romântico, vai trazer à realidade o mais insano, vai converter santos em pecados carnais, vai fazer brotar em campo estéril, lótus, algas e corais. E, quando cansarmos de rir, você me abraça e eu te abraço. Vem, vamos dormir nossas vidas enquanto os mortais sonham acordados.

Quem dera poder escrever o que sinto, mas não consigo...