QUIMERA
Rosi Luna
 
 

Vestido. É ele o culpado, vermelho provocante, costas nuas, uma mulher ali parada como se estivesse em um mirante. Nem sei como aconteceu, de repente estava de costas e senti umas mãos me acariciando, não quis virar para ver quem era. Aqueles movimentos, conheciam todas as minhas vértebras, foi subindo para o pescoço. Como posso estar ali chupando aquele caroço, cuspi fora o pêssego com tudo. Ele na minha pele pêssego de veludo completamente mudo. Fui arrepiando, a respiração foi suspirando, ele me afogando. Amar me deixa tão sem ar. Quimera, quem me dera ele pudesse me amar até a cabeça. Será que ele vai gostar de mim?

Detido. É ele o culpado, pele envolvente, costas largas, um homem ali parado como se fosse um viajante. Nem sei como aconteceu, de repente estava aquele dorso com camisa me roçando e senti seu perfume lavanda, sim quis virar para ver quem era. Aqueles movimentos na minha nuca, era agora ou nunca, conhecia as minhas carícias prediletas, tinha mãos de atleta. Como posso me deixar levar por essa sensação, fechei os olhos e joguei os óculos com tudo. Ele no meu corpo de maça pronto para provar. Fui mordendo, a boca lambendo, ele me sorvendo. Amar me dá tanto sabor. Quimera, quem me dera ele pudesse me amar até a cintura. Será que ele quer sentir meu calor?

Desmentido. É ele o culpado, sentimento oscilante, beijo longo, uma mulher ali parada como se fosse uma lua cintilante. Nem sei como aconteceu, de repente a noite caiu e senti um envolvimento, não quis virar para ver o que era. Aqueles movimentos da paixão mexiam todos os meus músculos, fui relaxando, tinha desejos secretos. Como não paro de pensar nisso, não quero nenhum compromisso, é só um amor omisso com tudo. Ela no meu olhar foi deixando tudo claro. Fui vendo, a imagem delineada, ela me iluminando. Amar me de deixa tão no escuro. Quimera, quem me dera ela pudesse me amar até os pés. Será que ela me leva para caminhar nas marés?

Dito. É ele o culpado, frase de eu te amo, poema do aeroplano, um homem ali parado como se fosse um aviador. Nem sei como aconteceu, de repente ele foi subindo e me levou as alturas, quase tive tontura, não quis olhar para baixo para ver como estava alto. Aqueles movimentos de hélice girando, meu amor em segundo plano. Como posso estar nos seus braços, não quero criar laços, só um amor sem bússola indo para qualquer direção com tudo. Ele no meu coração apaixonado. Fui me soltando, ele me segurando. Amar me deixa tão no ar. Quimera, quem me dera ele pudesse pular de para-quedas para amá-lo dos pés até a cabeça. Será que ele me leva para voar?

Travestido. É ele o culpado, corpo cheio de desejo, a vontade querendo o ensejo, uma mulher ali parada como se fosse uma musa. Nem sei como aconteceu, de repente era um poema-conto com métrica, não quis contar as linhas para ver se tinha simétrica. Aqueles movimentos de poesia em demasia, era para atrair sua conquista. Como não paro de escrever, quero acabar com todas as frases com tudo. Ela não escreve simplesmente, sente cada letra como batimento cardíaco. Fui me entregando, ela me desarmando. Amar me deixa tão inseguro. Quimera, quem me dera ela pudesse amar as letras e todas as minhas artérias. Será que ela está na corrente sanguínea do meu coração?